Direto
do palácio de Ronaldo Caiado, opositor do presidente, ministro mandou recados a
Bolsonaro durante entrevista na Globo
Por
Robson Bonin
Mandetta reconheceu na noite deste domingo que a postura
de Bolsonaro atrapalha o trabalho contra a pandemia, porque o brasileiro, ao
ver o presidente desfilando por padarias e aglomerações, não sabe se escuta o
ministro, que reprova esse ato, ou o presidente, que os estimula Andre Coelho/Getty
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Se
Jair Bolsonaro não está nem aí para o trabalho de Luiz Henrique Mandetta no
combate ao coronavírus, o ministro da Saúde mostrou na noite deste domingo que
também não vai evitar chamar as coisas pelo nome quando tratar do boicote
presidencial ao plano preventivo do governo.
Sentado
na sala da residência do adversário de Bolsonaro, o governador de Goiás Ronaldo
Caiado, Mandetta reconheceu na noite deste domingo que a postura do presidente
atrapalha o trabalho contra a pandemia, porque o brasileiro, ao ver o
presidente desfilando por padarias e aglomerações, não sabe se escuta o
ministro, que reprova esse ato, ou o presidente, que os estimula.
Mandetta
também disse, sem citar nomes, que a resistência ao isolamento social é coisa
de gente que “gosta de internet” e acredita em fake news de que o vírus faz
parte de um plano da China para tirar vantagens econômicas do mundo. Disse
ainda, num tiro direto às paranoias presidenciais, que a contrariedade ao plano
da Saúde de isolamento vem de “pessoas que acham que existe um complô mundial
contra elas”.
Por
todas as declarações, dadas à Globo, a grande inimiga de Bolsonaro, o ministro
marcou mais um limite na sua atuação. Não vai mais ficar calado diante das
ações do presidente para desmoralizar seu trabalho.
Na
noite deste domingo o Radar ouviu algumas figuras importantes de Brasília.
Entre os apoiadores de Bolsonaro, a postura de Mandetta vem sendo interpretada
como a reação de alguém que não fez o dever de casa, não conseguiu preparar o sistema
de Saúde com insumos e equipamentos nem estratégia para lidar com a pandemia, e
agora tenta forçar a demissão para jogar a responsabilidade da crise no colo do
presidente.
Para
esse pessoal, falta planejamento a Mandetta. “Ele só fica repetindo o fique em
casa sem apontar um caminho”, diz um aliado do presidente.
O
problema desse discurso bolsonarista está nos fatos registrados pelo mundo. O
Reino Unido e os Estados Unidos investem pesado contra o coronavírus. Estão
pagando o preço pela reação tardia, mas fizeram preparativos elogiados pelos
bolsonaristas e mesmo assim não conseguem planejar nada melhor do que o
isolamento social. Por um motivo simples: não há como tirar uma fotografia
geral do vírus nesse estágio da guerra. O que se pode fazer, é limitar a
circulação para reduzir a velocidade da infecção.
É
provável que a entrevista de Mandetta provoque um novo choque entre Bolsonaro e
o ministro. E num momento lastimável para o país.
Nesta
semana, a julgar pelo que foi dito pelos governadores nos últimos dias, os
sistemas de saúde das primeiras capitais do país entrarão em colapso. Pessoas
com coronavírus vão buscar os hospitais e encontrarão a placa de “não há
vagas”. Os médicos começarão a ter de decidir quem morre e quem vive.
Já
seria o pior dos mundos em um país com uma frente organizada de combate ao
vírus, como vem ocorrendo no Reino Unido, na Itália e até nos Estados Unidos,
onde Donald Trump abandonou o discurso de Bolsonaro há dias… Imagine, então, o
tamanho do problema que será para um país onde o presidente insiste em boicotar
o trabalho do seu próprio corpo técnico.
Questionado
sobre qual seria a estratégia para atravessar esta semana de profundo avanço do
coronavírus no país, João Doria fez o roteiro de São Paulo: “Insistir no
isolamento, aumentar os testes, ampliar a oferta de equipamentos de proteção a
profissionais de saúde, comprar mais respiradores, criar mais leitos de
hospital, convocar médicos e enfermeiros aposentados que puderem trabalhar”,
diz.
Outro
governador foi mais econômico: se o presidente ficar em silêncio nos próximos
cinco dias, já ajudará bastante, segundo ele.
Fonte: Veja Digital