quarta-feira, 25 de março de 2020

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), decidiu romper com o governo federal após o pronunciamento do presidente.


O governador, que é médico, criticou a declaração de Bolsonaro sobre coronavírus e disse ser um "aliado, não um subordinado"

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado Foto: Jefferson Rudy / Agência Senado

Presidente não vai me desmoralizar e rasgar meu decreto em Goiás, diz Caiado
Compartilhe por
Antes principal aliado de Jair Bolsonaro, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), decidiu romper com o governo federal após o pronunciamento do presidente pedindo que comércios e escolas sejam reabertos. Caiado, que e médico, criticou a declaração de Bolsonaro, disse ser um "aliado, não um subordinado", afirmou que Bolsonaro não tem "autonomia" para dizer o que os governadores devem fazer na área de saúde e que ninguém vai "desmoralizá-lo rasgando" seu decreto de governador ao pedir para população sair do isolamento devido à pandemia de coronavírus.

O senhor decidiu romper com o governo do presidente Jair Bolsonaro, por quê?
Na área de saúde eu sigo as decisões da OMS (Organização Mundial de Saúde), dos técnicos do Ministério da Saúde e da minha formação médica. Então, nessa área quem manda sou eu. Aqui, decisão de presidente não decide no meu estado, não. Não é nem questão de rompimento ou deixar de romper. O presidente não tem autonomia nessa área de saúde para deliberar sobre ela. Ele não tem poder para dizer amanhã o que o governador tem de fazer. Ele não é nenhuma autoridade na área sanitária. Ele não tem nenhuma formação para isso.

O senhor consegue entender a razão dessa decisão do presidente?
As pessoas não podem tratar um assunto tão sério como esse como se as consequências de um coronavírus amanhã, que é previsível o desemprego, a crise econômica agravando, como se isso fosse responsabilidade de A ou de B. Não tem porquê eu receber, conversar com o presidente --  eu sempre fui aliado dele, nas horas mais difíceis, sempre, a vida toda, estive ao lado dele -- para depois simplesmente ele mandar me comunicar por um texto que ele gravou e mandou para a televisão. Que tipo de aliado sou eu? Sou aliado, não sou subordinado de ninguém.

O senhor recebeu o texto antes?
Não, eu vi o pronunciamento. Aliás, nem vi. Depois que me mandaram o texto. Eu nem acreditei naquilo. Pensei que aquilo  fosse qualquer tipo de montagem. E depois fui me certificar que seria verdade. Então, é uma posição clara. Eu governo com os poderes todos aqui e com a Assembleia. Eu sei me comunicar com meus líderes de governos, com meus deputados e tudo mais. Nunca tive uma postura isolada. Eu não vou participar de maneira alguma de decisões que me vem goela abaixo sem que eu, que tenho conhecimento médico e tenho capacidade para poder discutir o assunto, só recebo uma gravação oficial do presidente. O que é isso? Tão muito enganado. Existe um limite. Tudo na vida tem um limite.

O presidente não procurou o senhor para se orientar sobre a melhor medida a se tomar?
Eu tentei por várias vezes marcar uma audiência com ele esses dias. Liguei no dia do aniversário dele. Claro, não quis falar desse assunto no dia do aniversário. Mas todas as vezes eu me coloquei à disposição e disse 'olha, presidente, esse assunto vai exigir de nós uma preocupação'. Mas nunca consegui marcar essa reunião. Agora, eu, na área de saúde, dos poucos os governadores que apoiam  ele declaradamente, vou receber isso na minha área, me desmoralizando e rasgando meu decreto em Goiás? Ah, ele não faz isso comigo, não. Ele tá enganado. Ele confundiu educação com falta de coragem.