Getty Images Estados, cidades e
iniciativa privada bancariam a maior parte do investimento em infraestrutura
O tão esperado plano de Donald Trump para
modernizar a infraestrutura dos Estados Unidos é, para alguns, "uma
fraude".
O presidente dos EUA quer que o Congresso autorize
a aplicação de US$ 200 bilhões em rodovias, estradas, portos e aeroportos
durante uma década. E espera que os Estados e o setor privado estimulem o
desenvolvimento com outros US$ 1,3 trilhões.
Aqueles que o apoiam defendem a necessidade de
modernizar a infraestrutura envelhecida do país, mas os críticos dizem que o
plano busca, na verdade, privatizá-la, beneficiando corporações em detrimento
do meio ambiente.
O projeto, uma promessa eleitoral de Trump, é parte
de uma proposta orçamentária de US$ 4,4 trilhões que abandona o objetivo de
longo prazo dos republicanos de equilibrar as contas federais no decorrer de
uma década.
Ele pode pesar no bolso dos americanos, que
poderiam ter de pagar impostos e pedágios mais caros - e também não tem sido
fácil de viabilizar, como reconhece o próprio presidente.
"Nós gastamos US$ 7 trilhões no Oriente Médio,
US$ 7 trilhões. Que erro", disse ele na Casa Branca na segunda-feira.
"Mas para fazer o que estamos tentando, construir rodovias e pontes, e
consertar pontes que estão caindo, estamos tendo dificuldades para conseguir o
dinheiro. É uma loucura."
Getty Images O presidente quer
que o Congresso autorize US$ 200 bilhões durante uma década para investimentos
em rodovias, estradas, portos e aeroportos
O que diz a
proposta
Um funcionário de alto escalão do governo disse no
fim de semana que o investimento de US$ 200 bilhões seria pago com
"economia em outras áreas do orçamento federal".
O plano prevê que US$ 50 bilhões de fundos públicos
sejam destinados a modernizar a infraestrutura em zonas rurais - muitas das
quais votaram em Trump nas eleições presidenciais de 2016.
A proposta inclui US$ 100 bilhões para um programa
de incentivos "para estimular fundos adicionais de Estados, localidades e
do setor privado".
Fundos estatais como esse devem, por lei, ser
destinados ou separados para um objetivo específico.
O governo americano também quer obter US$ 20
bilhões em empréstimos e títulos para financiar projetos que incluam serviços
como transporte e água.
Getty Images Apoiadores do plano
defendem a necessidade de modernizar a infraestrutura envelhecida do país
O projeto permite aos Estados incluírem ou
aumentarem os pedágios em estradas interestaduais, e cobrar tarifas pelo uso
das zonas de descanso nas estradas. Entretanto, os proíbe de cobrar por
"serviços essenciais como água ou acesso aos banheiros".
Além disso, o plano busca reduzir o tempo
necessário para se obter licenças ambientais.
Entre os planos da gestão Trump estão vender os
aeroportos Ronald Reagan e Washington Dulles, ambos próximos à capital
americana, como parte do projeto.
"O governo federal é dono e opera certa
infraestrutura que seria mais apropriada que estivesse em mãos de entidades
estaduais, locais ou privadas", indica o plano.
Segundo a Casa Branca, a proposta é um ponto de
partida para as negociações. No entanto, Trump a transformou em prioridade
legislativa para este ano, que terá eleições parlamentares em novembro.
O presidente se reuniu com autoridades estaduais e
locais na segunda-feira, incluindo os governadores dos Estados de Wisconsin,
Louisiana, Virgínia e Maine.
Ele tentará vender o plano aos líderes do Congresso
na próxima quarta-feira.
Getty Images Plano apresentado
por Trump foi promessa da campanha de 2016
'Fraude'
A proposta enfrenta uma dura oposição. Um dos
motivos é que não oferece tantas verbas novas do governo federal, como querem
os democratas. Eles têm defendido um investimento em infraestrutura cinco vezes
maior que o proposto por Trump.
"Depois de um ano cheio de alardes vazios, o
presidente finalmente revelou uma fraude de infraestrutura que não atende de
forma alguma o que as comunidades dos Estados Unidos precisam", disse a
líder democrata na Câmara, Nancy Pelosi.
Na direita, é provável que a ala antideficit
provavelmente rejeite qualquer nova despesa, a menos que haja possibilidade de
economia em outras áreas do orçamento.
Alguns críticos dizem que o plano do governo é uma
tentativa de privatizar a infraestrutura do país e transferir o ônus dos custos
para os Estados, que, por sua vez, o passaria para os cidadãos.
Os ambientalistas, por outro lado, salientam que a
ideia de encurtar o processo de análise para conceder licenças aumentaria os
riscos para a vida selvagem. E não são só eles.
"É uma farsa para encher os bolsos dos
poluidores corporativos destruindo a proteção do nosso ambiente", afirmou
o Centro para o Progresso Americano, um grupo de estudos de tendência liberal.
Mas um grupo empresarial proeminente aplaudiu o
plano do presidente.
"Poderia nos ajudar a reivindicar nosso
legítimo lugar como líder mundial da verdadeira infraestrutura do século
21", disse Jay Timmons, diretor da Associação Nacional de Fabricantes dos
Estados Unidos (NAM, da sigla em inglês).
Getty Images Local governments will bear the majority of costs under the
plan
Popularidade
limitada
O correspondente da BBC em Washington, Anthony
Zurcher, lembra que "se há algo que os políticos amam é gastar dinheiro em
infraestrutura".
"Porque cria empregos, agrada ao comércio e dá
à equipe algo tangível para ressaltar quando os eleitores perguntam o que eles
têm feito ultimamente", diz.
No caso de Trump, entretanto, ele observa que o
plano provavelmente terá popularidade limitada e será difícil de aprovar no
Congresso.
"O problema principal para a Casa Branca é que
a proposta não destina novos fundos para pontes, ferrovias, rodovias e túneis.
Em contrapartida, recomenda retirar dinheiro de outros programas
governamentais, embora deixe ao Congresso a tarefa pouco invejável de
determinar de onde serão cortados os recursos", explica.
Outro problema que Zurcher enxerga é que o plano se
apoia fortemente em outros agentes para bancar os projetos. No caso dos
Estados, orçamentos sempre apertados e cortes recentes devido a descontos
federais e nos impostos locais trazem mais dificuldades.
O correspondente da BBC lembra ainda que a cobrança
de pedágios e tarifas que enchem os bolsos de empresas têm sido
tradicionalmente impopulares entre os americanos.
"Isso não significa que uma lei de
infraestrutura não será aprovada", diz ele. "As chances são,
entretanto, de que o Congresso aprove algo muito muito diferente do que a Casa
Branca apresentou na última segunda-feira."
Fonte:
BBC Brasil