Falcon Heavy: por que o lançamento do foguete mais potente do mundo pela
Space X é importante
imagem Reuters
Na mesma plataforma de lançamento de onde o homem
partiu para chegar à Lua, ocorreu nesta terça um novo marco da exploração
espacial.
O mais poderoso foguete do mundo acaba de ser
lançado ao espaço e pode dar início a um novo capítulo da empreitada rumo à
primeira missão tripulada a Marte.
O Falcon Heavy foi fabricado pela empresa Space X,
do bilionário americano Elon Musk, para ter duas vezes mais capacidade de
propulsão do que qualquer outro foguete. Mas, diante da alta taxa histórica de
falhas em voos inaugurais, o teste não foi tripulado: ele leva apenas um carga
experimental - um automóvel da Tesla, outra empresa de Musk, com um manequim
vestido com um traje especial.
A previsão era de que o clássico Space Oddity,
de David Bowie, ficasse tocando continuamente conforme o veículo espacial fosse
colocado em uma órbita elíptica ao redor do Sol até chegar à órbita de Marte.
"Ele chegará a 400 milhões de km da Terra, viajando a 11km/s", disse
Musk em uma coletiva na última segunda-feira.
"Estimamos que ele fique em órbita por
centenas de milhões de anos, talvez até mesmo bilhões de anos." Três
câmeras presas ao carro registrarão "paisagens épicas", acrescentou o
empresário.
Milhares de espectadores acompanharam ao vivo no
Centro Espacial John F. Kennedy, da Nasa, em Cabo Canaveral, na Flórida, onde
foram vendidos ingressos por US$ 195 (R$ 634).
Um carro será enviado rumo à
órbita de Marte, mas as chances de que chegue lá são pequenas | Foto: Elon
Musk/Instagram
Como é o
foguete?
O Falcon Heavy é composto basicamente por três
foguetes Falcon 9. Mas reuni-los em um único conjunto exigiu uma série de
alterações, como reforçar seu núcleo central.
Os 27 motores Merlin em sua base devem ser capazes
de gerar um impulso de 23 mil kilonewtons, pouco mais do que o dobro do que o
foguete mais potente existente hoje, o Delta IV Heavy, que é operado pela
empresa americana United Launch Alliance, uma das principais concorrentes da
Space X.
Com 70 metros de altura, o Falcon Heavy foi criado
para colocar no máximo 64 toneladas em órbita baixa, o equivalente a quatro
ônibus. Na verdade, raramente será exigido que ele carregue tanto peso, porque
a Space X espera que ele seja capaz de pousar de volta na Terra após o
lançamento, e o combustível necessário para isso limita sua capacidade neste
aspecto.
Mas a enorme propulsão do foguete cria algumas
possibilidades, como transportar satélites bem mais pesados para uso pelas
forças militares e de inteligência americanas (o tamanho dos satélites hoje é
limitado pela performance dos foguetes atuais), lançar mais satélites ao mesmo
tempo e robôs maiores para explorar a superfície de Marte ou de outros planetas
como Júpiter e Saturno e suas luas ou colocar em órbita telescópios de grande
porte.
Foguete será lançado do Centro Espacial John
F. Kennedy | Foto: Space X
Por enquanto, o Falcon Heavy tem apenas algumas
reservas previstas para suas missões, duas delas para o envio de grandes
satélites de telecomunicação que precisam ser colocados em órbita
geoestacionária a 36 mil km acima da Terra.
"Esses satélites têm mais de 6 toneladas,
enquanto a capacidade do foguete é de 8 toneladas para uma viagem até uma
órbita geoestacionária se ele for integralmente reutilizado", disse Rachel
Villain, da consultoria especializada em atividade espacial Euroconsult.
"Então, obviamente o objetivo deve ser
reutilizar o foguete totalmente, caso contrário a capacidade até uma órbita
geoestacionária é de 20 toneladas, o que é bastante."
Villain afirmou ainda que os principais clientes em
vista são o "governo americano, o que inclui a Nasa e o Departamento de
Defesa, e empresas que querem ter sua própria constelação de satélites".
Como fica a
Nasa?
Passado o lançamento, surgem algumas questões
delicadas para a política especial dos Estados Unidos.
A Nasa certamente pode achar diferentes usos para
essa capacidade de carga extra, mas a agência tem seu próprio "foguete
monstro" em desenvolvimento.
O dilema para a Nasa e legisladores americanos é
que o Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla em inglês), como o foguete
é conhecido, ainda levará alguns anos para poder ser usado, com uma capacidade
de 70 toneladas para órbita baixa.
Além disso, cada lançamento custará US$ 1 bilhão
(R$ 3,25 bilhões), enquanto o Falcon Heavy custará apenas US$ 90 milhões (R$
292,5 milhões) por voo, segundo Musk.
Muitos já questionam o Congresso dos Estados Unidos
como justificar esse custo extra quando uma alternativa bem mais barata está prestes
a ficar disponível. E Musk não é o único empreendedor desenvolvendo soluções
comerciais com grande capacidade de carga que superam em muito o custo do SLS.
Jeff Bezos, fundador da Amazon, trabalha em um
foguete chamado New Glenn, que deve ser capaz de colocar 45 toneladas em órbita
baixa. Ele já deu indícios de planos de um foguete ainda mais poderoso, chamado
New Armstrong.
Um teste dos motores foi
realizado no mês passado | Foto: Space X
Um fracasso
está previsto?
Musk destacou as dificuldades enfrentadas para
deixar o Falcon Heavy pronto para seu voo inaugural. O projeto foi anunciado
formalmente em 2011, com um primeiro lançamento inicialmente previsto para
2013.
"Se sair errado, espero que isso ocorra em um
estágio avançado da missão para que possamos aprender o máximo possível neste
processo", afirmou. "Vou considerar uma vitória se ele sair da
plataforma e não explodi-la em milhares de pedaços. Ele tem o equivalente a
1.814.370 kg de dinamite. Provavelmente não restará muita coisa se sair do
controle."
Fazer com que os 27 motores sejam ativados em
conjunto e controlá-los durante a primeira fase da subida não é uma tarefa
simples. Os soviéticos tentaram em sua época fazer o mesmo, mas com 30 motores,
no primeiro estágio de seu malfadado foguete lunar, o N1, que nunca atingiu a
órbita terrestre.
Enquanto isso, Musk já pensa à frente: ele tem um
futuro foguete em desenvolvimento com 31 motores.
Novo foguete é composto
basicamente por três foguetes Falcon 9 | Foto: Space X
Fonte:BBC Brasil