Chris Gardner agora viaja o mundo dando palestras de motivação
De sem-teto a milionário. A história do americano
Chris Gardner virou um filme que rendeu a segunda indicação do ator Will Smith
ao Oscar, The Pursuit of Happyness (2006) - no Brasil, À Procura da
Felicidade. Mas, mesmo depois de enriquecer de forma tão impressionante e
virar um personagem conhecido mundialmente, ele largou tudo e voltou a se
reinventar.
Sua saga inicial começou na San Francisco da década
de 1980. Aos 27 anos, desempregado e abandonado pela mulher, ele foi morador de
rua por um ano, dormindo com o filho pequeno, Chris Jr., em abrigos da igreja,
bancos de praças e banheiros públicos nas estações de trem.
A vida mudou quando ele teve a chance de participar
do programa de estágio da corretora de valores Dean Witter Reynolds (DWR).
Mas a remuneração era baixa, suficiente apenas para
manter Chris Jr. em uma creche enquanto ele trabalhava. Ambos chegaram,
inclusive, a se alimentar em refeitórios para sem-teto.
No fim, porém, deu tudo certo. Após o estágio,
Gardner foi contratado e, em 1981, obteve licença para operar oficialmente na
Bolsa de Valores. Depois, conseguiu um emprego na conceituada firma Bear,
Stearns & Company. Trabalhou na área de San Francisco e, em seguida, em
Nova York.
Desde então, deslanchou e nunca mais parou: em
1987, tornou-se empresário independente e abriu a própria companhia, a Gardner
Rich.
Aos 62 anos, Gardner tem hoje uma fortuna estimada
em US$ 60 milhões (cerca de R$ 209 milhões).
Image copyright Chris Gardner Image
caption A biografia de Gardner se transformou no filme de sucesso 'À Procura da
Felicidade'
Somando-se a isso o fato de que ele teve uma
infância muito problemática e passou um tempo na cadeia pouco antes do estágio
na DWR, fica fácil compreender porque Hollywood se interessou ao saber que ele
escrevia a biografia The Pursuit of Happyness (a grafia errada em inglês
foi intencional).
Olhando para trás, Gardner diz à BBC que "não
mudaria nada".
"Sofri quando era criança, mas meus filhos não
têm que passar por isso", afirma. "Tudo o que me aconteceu foi porque
fiz as escolhas certas."
Mãe
inspiradora
Nascido em Milwaukee, no Estado do Wisconsin,
Gardner não chegou a conhecer o pai.
Cresceu na pobreza ao lado da mãe, Bettye Jean, e
de um padrasto alcoólatra e violento.
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caption Will Smith (esq.) foi indicado ao Oscar de melhor ator ao interpretar
Chris Gardner (dir.) no filme 'À Procura da Felicidade', em 2006
Também passou um tempo com uma família adotiva
depois que a mãe - num momento de desespero - tentou matar o companheiro.
Apesar das desventuras da infância, Gardner diz que
ela foi uma inspiração.
"Tive uma dessas mães à moda antiga, que me
dizia todos os dias: 'Filho, você pode ser ou fazer tudo o que quiser'",
conta ele.
"E eu acreditava totalmente nisso."
O empresário lembra que um dia, quando criança,
estava vendo um jogo de basquete na TV e comentou com a mãe que aqueles
jogadores podiam ganhar milhões de dólares.
"Minha mãe disse: 'Filho, um dia será você que
vai ganhar um milhão de dólares'. Até ela dizer isso, a ideia nunca tinha me
passado pela cabeça."
Encontro casual
Os milhões de dólares não vieram rapidamente.
Após terminar o colégio, ele passou quatro anos na
Marinha dos Estados Unidos.
Em 1974, mudou para San Francisco e começou a
trabalhar como vendedor de equipamentos médicos.
Sua vida mudou completamente quando ele viu um
homem numa Ferrari vermelha procurando vaga num estacionamento no centro da
cidade.
Impressionado com o carro, ofereceu a sua vaga.
"Falei para ele, você pode estacionar no meu lugar, mas me responda: O que
você faz? E como faz?"
O dono da Ferrari disse que era corretor da Bolsa
de Valores, vendia ações e faturava US$ 80 mil por mês (atualmente o
equivalente a R$ 278 mil).
"Naquele momento tomei duas decisões: entrar
no negócio de ações e futuramente comprar uma Ferrari", conta Gardner.
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caption Gardner e o filho pequeno passaram por momentos difíceis em San
Francisco
O dono da Ferrari se chamava Bob Bridges - e foi
ele quem conseguiu que Gardner fosse entrevistado para a vaga de estágio na
DWR.
Mas não foi tão fácil.
Com US$ 1.200 (equivalentes a R$ 4.170 hoje) em
multas de trânsito sem pagamento, Gardner foi parar na cadeia às vésperas da
entrevista.
Ele conseguiu sair da prisão e foi direto para lá,
usando as mesmas roupas com as quais tinha ficado na cadeia.
Apesar da aparência desleixada, seu entusiasmo e
foco impressionaram: ele conquistou a vaga.
Mais uma mudança de vida
Em 2012, seis anos depois do lançamento do filme, a
vida de Gardner mudou novamente com a morte da sua mulher, aos 55 anos, vítima
de um câncer.
A perda o fez reavaliar a vida e, depois de três
décadas de muito sucesso no mercado financeiro, ele resolveu mudar
completamente de carreira.
"Nas últimas conversas que tivemos, minha
mulher me disse: 'Agora que vimos como a vida pode ser curta, o que você vai
fazer no resto da sua'?"
Image copyright Chris Gardner Image
caption Gardner construiu uma nova carreira como palestrante
"Quando se tem uma conversa dessas, tudo muda.
Costumo dizer que, se você não está fazendo algo pelo qual é apaixonado, você
está comprometendo cada dia da sua vida."
Ao perceber que não queria mais trabalhar na área
de investimentos, Gardner se reinventou como autor de livros e especialista em
palestras de motivação.
Hoje ele passa 200 dias por ano viajando pelo mundo
e falando para auditórios lotados em mais de 50 países. Além disso, patrocina
várias organizações que ajudam os sem-teto e combatem a violência contra as
mulheres.
Scott Burns, diretor da corretora americana
Morningstar, afirma que Gardner "é uma incrível demonstração de
fortaleza".
Gardner afirma desmentir a teoria de que todos
somos produto do ambiente em que vivemos na infância.
"De acordo com esse pensamento, eu devia ter
sido mais um perdedor, alcoólatra, analfabeto, espancador de mulher e abusador
de crianças."
Ele diz que fez suas escolhas positivas graças ao
amor da mãe e ao apoio que recebeu de outras pessoas.
"Eu escolhi seguir a luz da minha mãe e de
outras pessoas com as quais não compartilho uma só gota de sangue."
Fonte:
BBC Brasil