18 de dezembro de 2016.
Texto
Áureo
João 15.4
“Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si
mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não
estiverdes em mim”.
Verdade
Aplicada
Quando a adoração perde o significado, tornamo-nos
reféns das lógicas do resultado.
Objetivos
da Lição
Alertar para
os perigos de uma adoração vazia;
Nortear, a
partir dos princípios bíblicos, os rumos da adoração;
Questionar a
essência do que se chama “adoração” na atualidade.
Glossário
Animismo: Ideia que consiste em
dar alma a coisas inanimadas;
Estilhaço: Fragmento, pedaço;
Tríade: Conjunto de três pessoas
ou três coisas.
Leituras
complementares
Segunda Êx 10.1-11
Terça Dt 30.11-20
Quarta 2Cr 15.1-19
Quinta Sl 14.1-7
Sexta Jo 4.1-24
Sábado At 17.15-34
Textos
de Referência.
João 15.1-3; 5-6; 8
1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o
lavrador.
2 Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e
limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
3 Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho
falado.
5 Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em
mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer.
6 Se alguém não estiver em mim, será lançado fora,
como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
8 Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito
fruto; e assim sereis meus discípulos.
Hinos
sugeridos.
124, 244, 269
Motivo
de Oração
Ore pelas estações de rádios cristãs que operam no
país, para que sejam bênção!
Esboço
da Lição
Introdução
1. A crise do vazio.
2. A fixação dos resultados
exteriores.
3. A escravização do verbalismo.
Conclusão.
Introdução
Na imensa crise do esvaziamento, coreografias pouco
interessantes roubam a beleza e a arte. Vivemos na era da técnica em detrimento
a graça. Há muitos que vivem em “adoração”, mas que não geram frutos de
arrependimento.
1. A
crise do vazio.
A esmagadora maioria dos que vivem nos chamados
“movimentos da adoração” da atualidade vive num atordoado esforço para destruir
a monstruosidade do vazio. A falta de sentido é percebida na forma como se
pretende orar; do exagero ao sufocamento, os extremos vão fazendo a rotina da
adoração do vazio (Jo 4.23-24).
1.1. A
distância entre ética e estética.
O vazio alimenta-se de um sofrimento secreto, que
por sua vez, apela à máscara. O teatro comportamental rouba a cena alargando
ainda mais a distância entre o adorar e o povo, e, também entre o adorador e
Deus. O erro fundamental está no vazio existencial. Gente que “adora” sem vida
Morte no altar. Isso gera um profundo choque entre ética e estética: é o
parecer superando o ser. Por essa razão, as características de shows são mais
viáveis do que o culto. No show, tudo é produto de uma mistura entre o frenesi
da massa e o desempenho dos astros, mas o culto só acontece quando os astros
são destronados e o Soberano Deus é adorado como Santo.
Vivemos num tempo marcado pelo
esvaziamento dos conteúdos, do significado. Excesso de informação atordoando e
confundindo. A constante troca de mitos numa sociedade que não consegue abraçar
o contentamento. A variedade de solicitações e de modelos generalizantes cansa,
abate. Nesse contexto de busca alucinada, a adoração é direta e essencialmente
atingida. Na correria tresloucada é criado um “fenômeno”; igrejas cheias de
gente vazia! Esse duelo entre significado e dor produz uma busca frenética por
novidades que tragam autenticidade e autoridade. Quando isso acontece, o buraco
negro da alma se aprofunda ainda mais.
1.2. A
perigosa via dos extremos.
Para encobrir a vergonha do vazio, muitos se
aventuram na perigosa via dos extremos: de um lado, uma melosidade
sentimentalista que escraviza emoções. Gente produzindo uma espécie de
estelionato emocional, onde as lágrimas são forçadas, sequestradas de sua
inocência. Do outro lado, uma carnavalização folclórica que, em nome da
liberdade cristã, “santifica” o ridículo (gente rolando no chão, imitando
bichos, cabelos esvoaçantes, etc.). Essas taras sentimentalistas nada mais são
do que fugas da normalidade. Gente que não suporta o silêncio. Gente que odeia
a cadência normal dos dias. Gente viciada numa espécie de adrenalina
espiritual. Gente que, se parar, percebe o vazio, e sofre. Gente que destrói o
significado da adoração, porque disfarça seu vazio ao invés de preenchê-lo na
presença do Altíssimo.
Quando nossa vida é um altar, nossas
palavras são hinos. Somos chamados a encarnar a graça. Nossas palavras só terão
sentido quando corresponderem à realidade de nossa vida com Deus. Quando
cultivarmos a presença de Deus, passarmos tempo nos deleitando nos braços do
Pai, é que teremos poder nas palavras e na adoração. Deus procura adoradores
que saibam que o Agricultor celeste não negocia com o engano. “Se alguém não
estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam
no fogo, e ardem.” (Jo 15.6). Não há significado na adoração se Deus não for a
realidade maior de nossa vida.
1.3. A
terrível inversão dos valores.
Essa geração do vazio é rápida em inverter os
valores. Humildade vira defeito, orgulho vira virtude. O vazio engole os
valores. Grande parte das pessoas hoje luta por causas sem sentido. Uma das
formas mais eficazes de desligar-nos de Deus é invertendo os calores. É
gritando a graça com a fúria da lei. É caindo na tentação de ser o dono do
nosso próprio culto. Se a adoração for invertida, Deus saíra de cena. Igreja
sem Deus é apenas acúmulo de vazio (Jo 15.6).
Em Lucas 1.38, Maria afirma: “Cumpra-se
em mim segundo a tua palavra”. Adoração começa quando Deus visita nossa
intimidade. É a presença que propõe mudanças. Na sequência do texto (Lc 1.46),
Maria canta: “Minha alma engrandece ao Senhor”. Ela repete as palavras de Ana
(1Sm 2.1-10). A adoração tem o componente da gratidão. Gratidão pelo que está
por vir (o Messias). Quando chegamos ao capítulo 2.14, os anjos cantam: “Glória
a Deus nas alturas, paz na terra”. A adoração dos anjos une o que tem origem no
céu com o que acontece na terra. É a primeira indicação da oração de Jesus:
“Assim na terra como no céu.” (Mt 6.10). A adoração com significado nos coloca
juntos não apenas da comunidade dos santos, mas de toda a congregação do céu.
2. A
fixação dos resultados exteriores.
A adoração da atualidade corre atrás de resultados.
Isso é tão notório que o linguajar do marketing virou rotina: publico alvo,
estratégias de alcance, pesquisas de gêneros musicais, mídia. Essa tentação do
retorno é fruto dos olhos seduzidos pelos “reinos do mundo e seu esplendor”
oferecidos a Jesus pelo diabo no deserto (Mt 4.8). Esse é um grande motivo para
mantermos nossos olhos constantemente lubrificados pela graça de Deus.
2.1. A
interioridade negligenciada.
Vivemos a era da desvalorização das essências. O
que vale é o espelho, não o rosto. Na tentação dos resultados exteriores,
ignora-se a alma amordaçada. Ignora-se a tortura que ocorre no íntimo. Por
isso, muitos dos “artistas” acabam nos consultórios psiquiátricos, em abismais
depressões. Alimentam a mentalidade mitológica e sofrem por medo do
esquecimento. Esse comportamento gera um fenômeno conhecido como “celebridade
instantânea”, gente descartável. Enquanto dão algum prazer à massa, são amados
e idolatrados, mas quando o encantamento se esvai, entram nos domínios de sua
interioridade negligenciada e ferida para recolherem os estilhaços de sua
vitrine sentimental.
A linguagem de Jesus Cristo nos
evangelhos é cheia de metáforas e imagens. Suas parábolas são um convite á
imaginação. Uma das metáforas que Jesus usa é a videira. Ele mesmo é a videira,
nós, as varas. Mas, para que cresçamos e venhamos a dar frutos, carecemos do
trabalho do agricultor experiente. Isso deixa-nos uma valiosa lição para a
adoração: adoração não é o resultado de uma série de experiências ou de uma
dose de criatividade, mas de um processo divino de jardinagem – a poda! (Jo
15.2). Nossa tendência é acreditar que o crescimento espiritual é determinado
por aquilo que fazemos para Deus, contudo, essa metáfora mostra-nos que antes
de fazermos qualquer coisa vem a poda! O que o Eterno Deus faz em nós vem antes
do que aquilo que fazemos por Ele, Só adoramos porque somos libertos para
adorar.
2.2. A
difícil conciliação entre a agenda pessoal e a intimidade com Deus.
Elevados a categoria de celebridades, muitos vivem
escravizados pelas agendas. Perdem o contato com a família, com a Igreja local.
Perdem o chão. Como dizia o poeta: “os mais belos hinos e poesia foram escritos
em tribulação”. Os hinos e poesias de hoje são escritos em “tripulação” – no
avião, na correria entre uma agenda e outra, na escada entre um palco e outro.
É doloroso observar o esforço desumano que fazem para manter a imagem de
santos, quando já perderam o caminho da santidade. Nenhum santo é feito no
palco, mas na sarça, na fornalha, no deserto, no vale (Gn 32.22-32; Êx 3.2; Dn
3.1-30; 1Rs 19.1-21).
Deus procura servos que saibam que não há
agenda mais importante do que alimentar-se diariamente na presença do Santo.
Antes de qualquer coisa, precisamos resgatar a verdade de que o Eterno Deus
valoriza a adoração. No chamado de Isaías, o ato de adoração dos serafins
retrata muito bem a dinâmica do céu: adoração e santidade. Quando a presença de
Deus é real em nossa adoração, preenchemos o vazio e destruímos o verbalismo.
2.3. E
quando o resultado não vêm?
A grande tragédia dessa geração do vazio é mirar no
horizonte dos resultados e não vislumbrar esperança. Se o resultado não
acontece, a inquietação rouba o sono. Como o mundo de hoje fabrica deuses com
extrema velocidade, o medo do esquecimento leva a tentação de manipular falsos
resultados. A mentira começa a governar a vida. Uma verdade precisa ser
resgatada com urgência: aquilo que o Espírito Santo não quer fazer, marqueteiro
nenhum pode produzir! (Gl 6.7).
Se julgarmos nossa adoração pelos
resultados exteriores, estaremos condicionados à multidão e ela sempre é
perigosa. Não é o que os outros sentem quando eu adoro que me legitima como
adorador, mas sim, o que eu sei que Deus operou em mim quando abracei o privilégio
de estar em Sua Presença Santa.
3. A
escravização do verbalismo.
Muitos são os que ainda carregam a síndrome da
mulher samaritana: “Jerusalém ou Gerizim?” (Jo 4.20) Mais do que lugares,
geografias demarcadas, era um jeito estabelecido de adorar – o império do
tecnicismo.
3.1. A
problemática gospel.
Existe hoje uma “cultura gospel”. Um movimento
musical, o gospel, explodiu na última década do século XX entre os evangélicos
e deu forma a um modo de vida configurado pela tríade: música, consumo e
entretenimento. O problema dessa “cultura gospel” é que seu discurso é
profundamente distante de sua prática. O verbalismo afirma Deus como Senhor,
mas a prática cultua deuses descartáveis do orgulho e da fama.
A partir da segunda metade da década de 80,
uma influência vinda do Atlântico Norte chegou com tanta força e fúria que, em
vez de enriquecer e ampliar horizontes musicais brasileiros, ditou formas e
tons para os artistas da terra. Era o movimento gospel. Desde então, tudo se
tornou gospel. A maioria dos músicos mudou de som e de proposta. Os poucos que
resistiram bravios perderam seu espaço. Outros foram cantar noutros quintais.
3.2.
Muita criatividade, pouco bom senso.
O conceito de profecia foi banalizado. Tudo hoje
virou “profético”. Não contente com o vocábulo “profético” criam-se objetos
proféticos, numa espécie de animismo eclesiástico: é óleo ungido, vara do
poder, corredor do fogo, mãos ungidas, etc. A lista é longa, curiosa e
desesperadamente “profética”. São nossas “Jerusalém e Gerizim”. Geografias
ocultando corações. Criatividade duvidosa suprimindo o bom senso. Não basta
termos um elaborado jargão profético, uma gramática ungida ou um dicionário de
pode, mas sim, uma vida íntegra, humilde e digna diante do Senhor. Deus procura
homens e mulheres de coração aberto (Jo 15.5).
Na passagem bíblica de Mateus 7.21, Jesus
afirma: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus”.
Jesus não se deixa impressionar pela articulação teológica da nossa fala, mas
pela submissão de nosso ego à Sua vontade. Verbalismos como “Senhor, Senhor!”
podem ser apenas fugas semânticas de uma realidade interior destruída.
3.3. A
tentação da sofisticação.
A preocupação com o sofisticado leva essa geração à
fuga da simplicidade. Cantar que Jesus é bom e salva o pecador é considerado
retrógrado, passado, sem impacto. É preciso florear, carregar no apelo do
marketing. É preciso “dar um trato” em Jesus. Essa crise é tão forte que tem
aprisionado muitas almas. Muitos, em nome dessa sofisticação, alimentam a
teatralização da própria existência. É gente que não suporta quando o culto
termina no domingo à noite, pois sabe que o monstro da segunda-feira virá. Esse
vazio machuca muitos “adoradores”.
Infelizmente, muitos acordam com gosto de
cinzas nas segundas-feiras da vida. Aprendamos com o exemplo do nosso Senhor
Jesus Cristo, que não se deixou seduzir pela sofisticação do Império Romano,
nem pelo verbalismo da filosofia grega, muito menos pela imponência egípcia.
Seu coração estava na companhia de doze homens extraordinariamente simples, mas
livres para viver ao Seu lado.
Conclusão.
Estamos na era das ilusões. Para que não sejamos
levados por essa forte correnteza, carecemos de bases sólidas, firmes na rocha,
um trabalho de estruturação genuíno e fiel. Que o Agricultor por excelência
tenha liberdade para nos podar, para que nossa adoração gere frutos de
eternidade.
Questionário.
1. Como a falta de sentido é percebida?
R: Na forma como se pretende adorar:
do exagero ao sufocamento, os extremos vão fazendo a rotina da adoração do
vazio (Jo 4.23-24).
2. O que é a Igreja sem Deus?
R: Acúmulo de vazio (Jo 15.6).
3. Qual a verdade que precisa ser resgatada com
urgência?
R: Aquilo que o Espírito Santo não
quer fazer, marqueteiro nenhum pode produzir! (Gl 6.7).
4. O que muitos ainda carregam?
R: A síndrome da mulher samaritana:
“Jerusalém ou Gerizim?” (Jo 4.20).
5. O que Deus procura?
R: Homens e mulheres de coração
aberto (Jo 15.5).
Fonte: Revista
de Escola Bíblica Dominical, Betel, Adoração e Louvor, A excelência e o
propósito de uma vida inteiramente dedicada a Deus, Jovens e Adultos, edição do
professor, 4º trimestre de 2016, ano 26, Nº 101, publicação trimestral, ISSN
2448-184X.