segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Lição 12 Quando a adoração perde o significado



18 de dezembro de 2016.
Texto Áureo
João 15.4
“Estai em mim, e eu, em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não estiver na videira, assim também vós, se não estiverdes em mim”.
Verdade Aplicada
Quando a adoração perde o significado, tornamo-nos reféns das lógicas do resultado.
Objetivos da Lição
Alertar para os perigos de uma adoração vazia;
Nortear, a partir dos princípios bíblicos, os rumos da adoração;
Questionar a essência do que se chama “adoração” na atualidade.
Glossário
Animismo: Ideia que consiste em dar alma a coisas inanimadas;
Estilhaço: Fragmento, pedaço;
Tríade: Conjunto de três pessoas ou três coisas.
Leituras complementares
Segunda Êx 10.1-11
Terça Dt 30.11-20
Quarta 2Cr 15.1-19
Quinta Sl 14.1-7
Sexta Jo 4.1-24
Sábado At 17.15-34
Textos de Referência.
João 15.1-3; 5-6; 8
1 Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o lavrador.
2 Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais fruto.
3 Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.
5 Eu sou a videira, vós, as varas; quem está em mim, e eu nele, este dá muito fruto, porque sem mim nada podereis fazer.
6 Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.
8 Nisto é glorificado meu Pai: que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
Hinos sugeridos.
124, 244, 269
Motivo de Oração
Ore pelas estações de rádios cristãs que operam no país, para que sejam bênção!
Esboço da Lição
Introdução
1. A crise do vazio.
2. A fixação dos resultados exteriores.
3. A escravização do verbalismo.
Conclusão.
Introdução
Na imensa crise do esvaziamento, coreografias pouco interessantes roubam a beleza e a arte. Vivemos na era da técnica em detrimento a graça. Há muitos que vivem em “adoração”, mas que não geram frutos de arrependimento.
1. A crise do vazio.
A esmagadora maioria dos que vivem nos chamados “movimentos da adoração” da atualidade vive num atordoado esforço para destruir a monstruosidade do vazio. A falta de sentido é percebida na forma como se pretende orar; do exagero ao sufocamento, os extremos vão fazendo a rotina da adoração do vazio (Jo 4.23-24).
1.1. A distância entre ética e estética.
O vazio alimenta-se de um sofrimento secreto, que por sua vez, apela à máscara. O teatro comportamental rouba a cena alargando ainda mais a distância entre o adorar e o povo, e, também entre o adorador e Deus. O erro fundamental está no vazio existencial. Gente que “adora” sem vida Morte no altar. Isso gera um profundo choque entre ética e estética: é o parecer superando o ser. Por essa razão, as características de shows são mais viáveis do que o culto. No show, tudo é produto de uma mistura entre o frenesi da massa e o desempenho dos astros, mas o culto só acontece quando os astros são destronados e o Soberano Deus é adorado como Santo.
Vivemos num tempo marcado pelo esvaziamento dos conteúdos, do significado. Excesso de informação atordoando e confundindo. A constante troca de mitos numa sociedade que não consegue abraçar o contentamento. A variedade de solicitações e de modelos generalizantes cansa, abate. Nesse contexto de busca alucinada, a adoração é direta e essencialmente atingida. Na correria tresloucada é criado um “fenômeno”; igrejas cheias de gente vazia! Esse duelo entre significado e dor produz uma busca frenética por novidades que tragam autenticidade e autoridade. Quando isso acontece, o buraco negro da alma se aprofunda ainda mais.
1.2. A perigosa via dos extremos.
Para encobrir a vergonha do vazio, muitos se aventuram na perigosa via dos extremos: de um lado, uma melosidade sentimentalista que escraviza emoções. Gente produzindo uma espécie de estelionato emocional, onde as lágrimas são forçadas, sequestradas de sua inocência. Do outro lado, uma carnavalização folclórica que, em nome da liberdade cristã, “santifica” o ridículo (gente rolando no chão, imitando bichos, cabelos esvoaçantes, etc.). Essas taras sentimentalistas nada mais são do que fugas da normalidade. Gente que não suporta o silêncio. Gente que odeia a cadência normal dos dias. Gente viciada numa espécie de adrenalina espiritual. Gente que, se parar, percebe o vazio, e sofre. Gente que destrói o significado da adoração, porque disfarça seu vazio ao invés de preenchê-lo na presença do Altíssimo.
Quando nossa vida é um altar, nossas palavras são hinos. Somos chamados a encarnar a graça. Nossas palavras só terão sentido quando corresponderem à realidade de nossa vida com Deus. Quando cultivarmos a presença de Deus, passarmos tempo nos deleitando nos braços do Pai, é que teremos poder nas palavras e na adoração. Deus procura adoradores que saibam que o Agricultor celeste não negocia com o engano. “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem.” (Jo 15.6). Não há significado na adoração se Deus não for a realidade maior de nossa vida.
1.3. A terrível inversão dos valores.
Essa geração do vazio é rápida em inverter os valores. Humildade vira defeito, orgulho vira virtude. O vazio engole os valores. Grande parte das pessoas hoje luta por causas sem sentido. Uma das formas mais eficazes de desligar-nos de Deus é invertendo os calores. É gritando a graça com a fúria da lei. É caindo na tentação de ser o dono do nosso próprio culto. Se a adoração for invertida, Deus saíra de cena. Igreja sem Deus é apenas acúmulo de vazio (Jo 15.6). 
Em Lucas 1.38, Maria afirma: “Cumpra-se em mim segundo a tua palavra”. Adoração começa quando Deus visita nossa intimidade. É a presença que propõe mudanças. Na sequência do texto (Lc 1.46), Maria canta: “Minha alma engrandece ao Senhor”. Ela repete as palavras de Ana (1Sm 2.1-10). A adoração tem o componente da gratidão. Gratidão pelo que está por vir (o Messias). Quando chegamos ao capítulo 2.14, os anjos cantam: “Glória a Deus nas alturas, paz na terra”. A adoração dos anjos une o que tem origem no céu com o que acontece na terra. É a primeira indicação da oração de Jesus: “Assim na terra como no céu.” (Mt 6.10). A adoração com significado nos coloca juntos não apenas da comunidade dos santos, mas de toda a congregação do céu.
2. A fixação dos resultados exteriores.
A adoração da atualidade corre atrás de resultados. Isso é tão notório que o linguajar do marketing virou rotina: publico alvo, estratégias de alcance, pesquisas de gêneros musicais, mídia. Essa tentação do retorno é fruto dos olhos seduzidos pelos “reinos do mundo e seu esplendor” oferecidos a Jesus pelo diabo no deserto (Mt 4.8). Esse é um grande motivo para mantermos nossos olhos constantemente lubrificados pela graça de Deus.
2.1. A interioridade negligenciada.
Vivemos a era da desvalorização das essências. O que vale é o espelho, não o rosto. Na tentação dos resultados exteriores, ignora-se a alma amordaçada. Ignora-se a tortura que ocorre no íntimo. Por isso, muitos dos “artistas” acabam nos consultórios psiquiátricos, em abismais depressões. Alimentam a mentalidade mitológica e sofrem por medo do esquecimento. Esse comportamento gera um fenômeno conhecido como “celebridade instantânea”, gente descartável. Enquanto dão algum prazer à massa, são amados e idolatrados, mas quando o encantamento se esvai, entram nos domínios de sua interioridade negligenciada e ferida para recolherem os estilhaços de sua vitrine sentimental.
A linguagem de Jesus Cristo nos evangelhos é cheia de metáforas e imagens. Suas parábolas são um convite á imaginação. Uma das metáforas que Jesus usa é a videira. Ele mesmo é a videira, nós, as varas. Mas, para que cresçamos e venhamos a dar frutos, carecemos do trabalho do agricultor experiente. Isso deixa-nos uma valiosa lição para a adoração: adoração não é o resultado de uma série de experiências ou de uma dose de criatividade, mas de um processo divino de jardinagem – a poda! (Jo 15.2). Nossa tendência é acreditar que o crescimento espiritual é determinado por aquilo que fazemos para Deus, contudo, essa metáfora mostra-nos que antes de fazermos qualquer coisa vem a poda! O que o Eterno Deus faz em nós vem antes do que aquilo que fazemos por Ele, Só adoramos porque somos libertos para adorar.
2.2. A difícil conciliação entre a agenda pessoal e a intimidade com Deus.
Elevados a categoria de celebridades, muitos vivem escravizados pelas agendas. Perdem o contato com a família, com a Igreja local. Perdem o chão. Como dizia o poeta: “os mais belos hinos e poesia foram escritos em tribulação”. Os hinos e poesias de hoje são escritos em “tripulação” – no avião, na correria entre uma agenda e outra, na escada entre um palco e outro. É doloroso observar o esforço desumano que fazem para manter a imagem de santos, quando já perderam o caminho da santidade. Nenhum santo é feito no palco, mas na sarça, na fornalha, no deserto, no vale (Gn 32.22-32; Êx 3.2; Dn 3.1-30; 1Rs 19.1-21).
Deus procura servos que saibam que não há agenda mais importante do que alimentar-se diariamente na presença do Santo. Antes de qualquer coisa, precisamos resgatar a verdade de que o Eterno Deus valoriza a adoração. No chamado de Isaías, o ato de adoração dos serafins retrata muito bem a dinâmica do céu: adoração e santidade. Quando a presença de Deus é real em nossa adoração, preenchemos o vazio e destruímos o verbalismo. 
2.3. E quando o resultado não vêm?
A grande tragédia dessa geração do vazio é mirar no horizonte dos resultados e não vislumbrar esperança. Se o resultado não acontece, a inquietação rouba o sono. Como o mundo de hoje fabrica deuses com extrema velocidade, o medo do esquecimento leva a tentação de manipular falsos resultados. A mentira começa a governar a vida. Uma verdade precisa ser resgatada com urgência: aquilo que o Espírito Santo não quer fazer, marqueteiro nenhum pode produzir! (Gl 6.7).
Se julgarmos nossa adoração pelos resultados exteriores, estaremos condicionados à multidão e ela sempre é perigosa. Não é o que os outros sentem quando eu adoro que me legitima como adorador, mas sim, o que eu sei que Deus operou em mim quando abracei o privilégio de estar em Sua Presença Santa. 
3. A escravização do verbalismo.
Muitos são os que ainda carregam a síndrome da mulher samaritana: “Jerusalém ou Gerizim?” (Jo 4.20) Mais do que lugares, geografias demarcadas, era um jeito estabelecido de adorar – o império do tecnicismo.
3.1. A problemática gospel.
Existe hoje uma “cultura gospel”. Um movimento musical, o gospel, explodiu na última década do século XX entre os evangélicos e deu forma a um modo de vida configurado pela tríade: música, consumo e entretenimento. O problema dessa “cultura gospel” é que seu discurso é profundamente distante de sua prática. O verbalismo afirma Deus como Senhor, mas a prática cultua deuses descartáveis do orgulho e da fama.
A partir da segunda metade da década de 80, uma influência vinda do Atlântico Norte chegou com tanta força e fúria que, em vez de enriquecer e ampliar horizontes musicais brasileiros, ditou formas e tons para os artistas da terra. Era o movimento gospel. Desde então, tudo se tornou gospel. A maioria dos músicos mudou de som e de proposta. Os poucos que resistiram bravios perderam seu espaço. Outros foram cantar noutros quintais.
3.2. Muita criatividade, pouco bom senso.
O conceito de profecia foi banalizado. Tudo hoje virou “profético”. Não contente com o vocábulo “profético” criam-se objetos proféticos, numa espécie de animismo eclesiástico: é óleo ungido, vara do poder, corredor do fogo, mãos ungidas, etc. A lista é longa, curiosa e desesperadamente “profética”. São nossas “Jerusalém e Gerizim”. Geografias ocultando corações. Criatividade duvidosa suprimindo o bom senso. Não basta termos um elaborado jargão profético, uma gramática ungida ou um dicionário de pode, mas sim, uma vida íntegra, humilde e digna diante do Senhor. Deus procura homens e mulheres de coração aberto (Jo 15.5).
Na passagem bíblica de Mateus 7.21, Jesus afirma: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! Entrará no reino dos céus”. Jesus não se deixa impressionar pela articulação teológica da nossa fala, mas pela submissão de nosso ego à Sua vontade. Verbalismos como “Senhor, Senhor!” podem ser apenas fugas semânticas de uma realidade interior destruída.
3.3. A tentação da sofisticação.
A preocupação com o sofisticado leva essa geração à fuga da simplicidade. Cantar que Jesus é bom e salva o pecador é considerado retrógrado, passado, sem impacto. É preciso florear, carregar no apelo do marketing. É preciso “dar um trato” em Jesus. Essa crise é tão forte que tem aprisionado muitas almas. Muitos, em nome dessa sofisticação, alimentam a teatralização da própria existência. É gente que não suporta quando o culto termina no domingo à noite, pois sabe que o monstro da segunda-feira virá. Esse vazio machuca muitos “adoradores”.
Infelizmente, muitos acordam com gosto de cinzas nas segundas-feiras da vida. Aprendamos com o exemplo do nosso Senhor Jesus Cristo, que não se deixou seduzir pela sofisticação do Império Romano, nem pelo verbalismo da filosofia grega, muito menos pela imponência egípcia. Seu coração estava na companhia de doze homens extraordinariamente simples, mas livres para viver ao Seu lado. 
Conclusão.
Estamos na era das ilusões. Para que não sejamos levados por essa forte correnteza, carecemos de bases sólidas, firmes na rocha, um trabalho de estruturação genuíno e fiel. Que o Agricultor por excelência tenha liberdade para nos podar, para que nossa adoração gere frutos de eternidade.
Questionário.
1. Como a falta de sentido é percebida?
R: Na forma como se pretende adorar: do exagero ao sufocamento, os extremos vão fazendo a rotina da adoração do vazio (Jo 4.23-24).
2. O que é a Igreja sem Deus?
R: Acúmulo de vazio (Jo 15.6).
3. Qual a verdade que precisa ser resgatada com urgência?
R: Aquilo que o Espírito Santo não quer fazer, marqueteiro nenhum pode produzir! (Gl 6.7).
4. O que muitos ainda carregam?
R: A síndrome da mulher samaritana: “Jerusalém ou Gerizim?” (Jo 4.20).
5. O que Deus procura?
R: Homens e mulheres de coração aberto (Jo 15.5).
Fonte: Revista de Escola Bíblica Dominical, Betel, Adoração e Louvor, A excelência e o propósito de uma vida inteiramente dedicada a Deus, Jovens e Adultos, edição do professor, 4º trimestre de 2016, ano 26, Nº 101, publicação trimestral, ISSN 2448-184X.