Requisitos
indispensáveis para o processo de cura
Por Professor Felipe de Souza
A ciência moderna ainda não produziu um medicamento
tranquilizador tão eficaz como o são umas poucas palavras boas. (Sigmund Freud)
No nosso Curso 100
Técnicas de Estudo, estamos trabalhando agora algumas estratégias
trazidas pela PNL chamadas de estratégias da genialidade. A base é o trabalho
de Robert B. Dilts, A estratégia da genialidade (em 3
volumes).
No último
volume, ele analisa extensamente o trabalho de Freud. Na medida em que os
conhecimentos a que este aturo chega são mais voltados para o nosso trabalho
aqui no Psicologia MSN e são menos úteis como técnicas de estudo, aproveitarei
uma parte da obra de Dilts e falaremos hoje sobre 3 requisitos básicos para a
cura.
3 requisitos para a cura
Os 3
requisitos que estão sempre presentes em um processo de cura, especialmente na
área da saúde mental, são:
1.
Intencionalidade (querer mudar)
2.
Relacionamento (transferência)
3.
Ritual (técnica)
Vejamos a
psicanálise. Freud foi certamente um autor genial e podemos aprender muito
sobre as pessoas lendo as suas obras. Entretanto, se ele tivesse apenas
analisado o comportamento em seus livros, seria um autor importante mas mais
próximo de um romancista. Porém, ele fez mais.
Em suas
obras ele demonstra que a psicanálise pode curar, trazendo a possibilidade de
que o paciente queira realmente a mudança com a análise. Ao mesmo tempo, ele
enfatiza a necessidade da transferência, de um relacionamento profundo entre o
paciente e o analista e, por último mas não menos importante, ele cria uma
técnica (que Dilts chama de ritual) que é inovadora: o divã e a associação
livre.
Intencionalidade (querer mudar)
Dizem que
desejar a mudança, desejar a cura é metade do processo. Quando estudamos
psicanálise, aprendemos que a análise não inicia no primeiro dia. Antes de
acontecer a entrada em análise, há as entrevistas preliminares. Através delas
averigua-se se o paciente possui realmente uma demanda de análise ou não, além
de ser feita a avaliação do quadro clínico.
Mas depois
da entrada em análise, a cada sessão, também notamos que o paciente volta e
meia foge do que é mais importante – o que Freud chamou de resistência. Em vez
de falar o que precisa falar, fala sobre banalidades, sobre o cotidiano.
Com o tempo,
porém, as resistências vão sendo superadas e o querer mudar, ou encontrar a
própria verdade, nos dizeres de Lacan, acaba ocorrendo dada a intenção do
paciente.
Relacionamento (transferência)
Porém, nem
com toda a vontade de querer mudar, haverá mudança se não houver
relacionamento, rapport ou transferência entre o paciente e o
terapeuta ou analista. Lacan foi muito feliz ao dizer que o analista ocupa a
posição de saber. Em outras palavras, o paciente acredita que o analista possui
um saber, um saber que vai lhe ajudar a contornar as suas dificuldades.
No plano
emocional e afetivo, muitos conteúdos podem aflorar quando acontece a
identificação do analista com uma pessoa importante do passado, como o pai, a
mãe ou outro.
Ritual (técnica)
O ponto que
penso ser mais fundamental para a realização da mudança é o que Dilts nomeia
como ritual. A inovação da psicanálise ou de outras linhas da psicologia (como
a Mindfulness, Gestalt, Psicodrama, etc) reside na criação de um ritual. Mas
não confundam a palavra ritual com um evento religioso. Entendemos e usamos a palavra
ritual aqui como uma analogia para um processo que se repete, que é repetitivo,
e que tem normas bem definidas.
Nesse
sentido, fazer análise às quartas-feiras, por 50 minutos, deitando-se no divã e
associando livremente é um ritual. Sentar-se em uma prática meditativa, todos
os dias por 20 minutos é um ritual. Ir para o consultório e se colocar no
papel, na pele, de pessoas com quem convivemos – como na Gestalt ou no
Psicodrama – é também um ritual.
Por isso, um
dos textos mais centrais na obra de Freud é Recordar, Repetir e
Elaborar.
A cura religiosa
Sem querer
misturar as coisas, também podemos analisar através da psicologia da religião,
aqui sucintamente, como o processo de cura religiosa segue um padrão
semelhante.
Existe um
adágio que diz: “quando o discípulo está preparado, o mestre aparece”. O
que dá ensejo à interpretação de que a cura começa a acontecer, a mudança, a
partir da época em que a pessoa tem a intenção de pelo menos dar início ao
processo. O líder religiosa exerce um papel de autoridade que consistiu um
relacionamento profundo para o fiel e os rituais são os rituais que conhecemos.
Conclusão
Existem
evidentemente muitas diferenças entre o processo de mudança dentro da
psicanálise, dentro de outros modelos psicoterapêuticos, e dentro das tradições
religiosas.
Porém,
mudadas as formas, percebemos que há uma estrutura padrão. Afinal, não é
possível a cura ou a mudança sem a procura, sem a intenção. Assim como não
haverá se não houver um relacionamento e uma prática constante e que se mantenha
por certo tempo.
Fonte: www.psicologiamsn.com