sábado, 22 de outubro de 2016

Requisitos indispensáveis para o processo de cura



Requisitos indispensáveis para o processo de cura


Por Professor Felipe de Souza
A ciência moderna ainda não produziu um medicamento tranquilizador tão eficaz como o são umas poucas palavras boas. (Sigmund Freud)
No nosso Curso 100 Técnicas de Estudo, estamos trabalhando agora algumas estratégias trazidas pela PNL chamadas de estratégias da genialidade. A base é o trabalho de Robert B. Dilts, A estratégia da genialidade (em 3 volumes).

No último volume, ele analisa extensamente o trabalho de Freud. Na medida em que os conhecimentos a que este aturo chega são mais voltados para o nosso trabalho aqui no Psicologia MSN e são menos úteis como técnicas de estudo, aproveitarei uma parte da obra de Dilts e falaremos hoje sobre 3 requisitos básicos para a cura.

3 requisitos para a cura
Os 3 requisitos que estão sempre presentes em um processo de cura, especialmente na área da saúde mental, são:
1.   Intencionalidade (querer mudar)
2.   Relacionamento (transferência)
3.   Ritual (técnica)
Vejamos a psicanálise. Freud foi certamente um autor genial e podemos aprender muito sobre as pessoas lendo as suas obras. Entretanto, se ele tivesse apenas analisado o comportamento em seus livros, seria um autor importante mas mais próximo de um romancista. Porém, ele fez mais.
Em suas obras ele demonstra que a psicanálise pode curar, trazendo a possibilidade de que o paciente queira realmente a mudança com a análise. Ao mesmo tempo, ele enfatiza a necessidade da transferência, de um relacionamento profundo entre o paciente e o analista e, por último mas não menos importante, ele cria uma técnica (que Dilts chama de ritual) que é inovadora: o divã e a associação livre.

Intencionalidade (querer mudar)
Dizem que desejar a mudança, desejar a cura é metade do processo. Quando estudamos psicanálise, aprendemos que a análise não inicia no primeiro dia. Antes de acontecer a entrada em análise, há as entrevistas preliminares. Através delas averigua-se se o paciente possui realmente uma demanda de análise ou não, além de ser feita a avaliação do quadro clínico.
Mas depois da entrada em análise, a cada sessão, também notamos que o paciente volta e meia foge do que é mais importante – o que Freud chamou de resistência. Em vez de falar o que precisa falar, fala sobre banalidades, sobre o cotidiano.
Com o tempo, porém, as resistências vão sendo superadas e o querer mudar, ou encontrar a própria verdade, nos dizeres de Lacan, acaba ocorrendo dada a intenção do paciente.

Relacionamento (transferência)
Porém, nem com toda a vontade de querer mudar, haverá mudança se não houver relacionamento, rapport ou transferência entre o paciente e o terapeuta ou analista. Lacan foi muito feliz ao dizer que o analista ocupa a posição de saber. Em outras palavras, o paciente acredita que o analista possui um saber, um saber que vai lhe ajudar a contornar as suas dificuldades.
No plano emocional e afetivo, muitos conteúdos podem aflorar quando acontece a identificação do analista com uma pessoa importante do passado, como o pai, a mãe ou outro.

Ritual (técnica)
O ponto que penso ser mais fundamental para a realização da mudança é o que Dilts nomeia como ritual. A inovação da psicanálise ou de outras linhas da psicologia (como a Mindfulness, Gestalt, Psicodrama, etc) reside na criação de um ritual. Mas não confundam a palavra ritual com um evento religioso. Entendemos e usamos a palavra ritual aqui como uma analogia para um processo que se repete, que é repetitivo, e que tem normas bem definidas.
Nesse sentido, fazer análise às quartas-feiras, por 50 minutos, deitando-se no divã e associando livremente é um ritual. Sentar-se em uma prática meditativa, todos os dias por 20 minutos é um ritual. Ir para o consultório e se colocar no papel, na pele, de pessoas com quem convivemos – como na Gestalt ou no Psicodrama – é também um ritual.
Por isso, um dos textos mais centrais na obra de Freud é Recordar, Repetir e Elaborar. 

A cura religiosa
Sem querer misturar as coisas, também podemos analisar através da psicologia da religião, aqui sucintamente, como o processo de cura religiosa segue um padrão semelhante.
Existe um adágio que diz: “quando o discípulo está preparado, o mestre aparece”. O que dá ensejo à interpretação de que a cura começa a acontecer, a mudança, a partir da época em que a pessoa tem a intenção de pelo menos dar início ao processo. O líder religiosa exerce um papel de autoridade que consistiu um relacionamento profundo para o fiel e os rituais são os rituais que conhecemos.

Conclusão
Existem evidentemente muitas diferenças entre o processo de mudança dentro da psicanálise, dentro de outros modelos psicoterapêuticos, e dentro das tradições religiosas.
Porém, mudadas as formas, percebemos que há uma estrutura padrão. Afinal, não é possível a cura ou a mudança sem a procura, sem a intenção. Assim como não haverá se não houver um relacionamento e uma prática constante e que se mantenha por certo tempo.

Fonte: www.psicologiamsn.com