Novos
dados dispensam Matéria Escura para explicar Universo
A equipe usou dados de
infravermelho captados pelo telescópio espacial Spitzer - esta é a imagem da
galáxia NGC 7793 vista pelo Spitzer. [Imagem: NASA/JPL-Caltech/R
Kennicutt/SINGS]
Velocidade radial
Uma medição inédita da velocidade rotacional das
estrelas em centenas de galáxias trouxe resultados que estão fazendo balançar
as duas principais teorias sobre o funcionamento do Universo - uma delas até
quase cair.
Segundo essas medições, a matéria escura
simplesmente não existe, e as leis da gravitação de Newton precisam de um
ajuste para explicar como a gravidade funciona em distâncias muito grandes.
Stacy McGaugh, Federico Lelli (Universidade Case
Western) e James Schombert (Universidade do Oregon) mediram a aceleração
gravitacional de estrelas em 153 galáxias de diversos tamanhos, brilhos e
velocidades de rotação.
E descobriram que a velocidade rotacional das
estrelas apresenta uma forte correlação com a massa visível das galáxias, sem
necessidade de levar em conta uma hipotética matéria escura que evitaria que as
estrelas fossem arremessadas para fora das galáxias.
Sem matéria escura
A correlação é baseada no cálculo da razão
massa/luz das galáxias, a partir da qual a distribuição da sua massa visível e
da gravidade atuante é calculada. Os astrônomos já haviam tentado fazer essa
medição usando a luz visível, mas os dados são distorcidos pelas estrelas
gigantes, milhões de vezes mais luminosas que o Sol.
A equipe então decidiu fazer as medições usando as
emissões de infravermelho, já que essa faixa do espectro é emitida sobretudo
pelas estrelas de menor massa e pelas gigantes vermelhas, ambas muito mais
comuns, dando um resultado mais preciso da massa da galáxia.
Os resultados são surpreendentes porque a hipótese
mais aceita pelos astrônomos e astrofísicos estabelece que as galáxias deveriam
estar envoltas em densos halos de matéria escura.
E os dados indicam também um desvio sistemático em
relação às previsões baseadas no modelo newtoniano das leis de gravidade,
implicando que há alguma outra força além da gravidade simples calculada por
Newton.
Dinâmica Newtoniana Modificada
"É uma demonstração impressionante de algo,
mas nós não sabemos o que é esse algo," disse o professor James Binney, da
Universidade de Oxford, em um comentário para a revista Physics World -
Binney não faz parte da equipe que fez as medições.
A correlação entre a velocidade
radial das estrelas e a massa das galáxias é impressionante - cada ponto em
azul é uma galáxia. [Imagem: McGaugh/Lelli/Schombert]
Curiosamente, os dados se encaixam perfeitamente
nas previsões do modelo MOND (Modified Newtonian Dynamics,
ou Dinâmica Newtoniana Modificada), um modelo elaborado no final do
século passado por Mordehai Milgrom para tentar explicar o Universo sem
necessidade da hipotética e elusiva matéria escura - até hoje nunca encontrada.
Apesar dos protestos de Milgrom, a equipe prefere
não afirmar que seus dados validam o modelo MOND, optando por uma terceira via
que eles chamam sutilmente de "manter a mente aberta", já que os
dados também poderiam ser explicados por modelos teóricos como a "matéria
escura superfluida ou mesmo por dinâmicas galácticas complexas".
Viés científico
A equipe justifica sua "sutileza"
afirmando que há um preconceito na comunidade astrofísica contra a teoria MOND.
"Eu tenho visto uma vez após a outra as pessoas descartando os dados
porque eles acham que a MOND está errada, de forma que eu estou conscientemente
traçando uma linha vermelha entre a teoria e os dados," disse Stacy
McGaugh.
De fato, em 2011 o próprio McGaugh já havia
liderado um trabalho que também colocava a matéria escura para
escanteio e validava a teoria MOND - mas o trabalho acabou
virtualmente esquecido.
Não é uma discussão que se possa esperar acabar
logo e McGauch parece continuar correndo o risco de ver seu trabalho novamente
posto de lado. Afinal, há vários projetos em andamento em busca de
indícios da matéria escura, cada um deles reunindo centenas de
cientistas e com orçamentos de milhões de dólares - e eles não vão simplesmente
desistir de seus projetos e de suas verbas simplesmente para dar razão a uma
outra teoria.
Fonte: www.inovacaotecnologica.com.br