Crenças
comuns nos Transtornos de Personalidade
Por Professor Felipe de Souza
No livro Terapia Cognitiva dos Transtornos
de Personalidade, Aaron Beck – o criador da psicologia cognitiva – e colaboradores
descrevem como os psicólogos cognitivos entendem e tratam os pacientes
diagnosticados com transtornos de personalidade.
O que é um Transtorno de
Personalidade?
A grosso
modo, entende-se que uma paciente com transtorno da personalidade difere de um
paciente com um quadro de sintomas de um transtorno de nome igual pela
constância ao longo do tempo. Alguns sinais como o relato do paciente de que
“eu sempre fui assim” ou de pessoas próximas “oh, ele sempre fez isso, desde
pequeno”, a baixa adesão ao tratamento, inconsciência sobre as consequências do
comportamento nos outros, baixa mudança apesar do entendimento da necessidade
de mudar e a visão de que os problemas são aceitáveis e naturais, como se
dissesse, “eu sempre fui assim, não consigo me imaginar diferente” podem
indicar que se trata de um transtorno de personalidade.
Por exemplo,
um paciente diagnosticado com o transtorno obsessivo-compulsivo difere de um
paciente diagnosticado com transtorno da personalidade obsessivo-compulsivo
pela constância dos sintomas, pela predominância das crenças na maioria das
situações, como regras comportamentais que não se alteram no longo prazo.
Importante
salientar que o paciente com transtorno de personalidade, evidentemente, não
busca o tratamento devido à sua personalidade, mas busca o tratamento para
tratar a depressão, a ansiedade ou situações externas com as quais não consegue
lidar ou que estariam contra si.
Uma outra
questão que geralmente surge é sobre as causas dos Transtorno de Personalidade.
Segundo Beck e colaboradores, o argumento mais fidedigno para explicar as
causas é a evolução das espécies, ou seja, a herança passada de geração a
geração geneticamente e que é ativada pelo meio em determinadas circunstâncias:
“Seria
razoável considerar a noção de que programas cognitivo-afetivo-motivacionais
muito antigos influenciam os nossos processos automáticos: a nossa maneira de
interpretar os eventos, o que sentimos e como estamos dispostos a agir. Os
programas envolvidos no processamento cognitivo, afeto, excitação e motivação
podem ter evoluído em resultado da capacidade de sustentar a vida e promover a
reprodução”. (BECK, p. 32).
Crenças comuns e estratégias
básicas nos Transtornos de Personalidade
Transtorno da Personalidade Dependente:
estratégia – apego / vinculação
Crenças fundamental – “Eu sou incapaz”
“Se eu não for amado, serei infeliz”
“A pior coisa possível seria ser abandonado”
“Eu me sinto desamparado quando me deixam por minha
própria conta”
“Eu preciso ter acesso o tempo todo à pessoa que me
ajuda e me apoia”
Transtorno da Personalidade Esquiva
– estratégia: evitação
Crença fundamental: “Eu posso me machucar
“Eu sou inepto e socialmente indesejável em
situações profissionais ou sociais”
“Se as pessoas se aproximarem de mim, elas
descobrirão meu verdadeiro eu e me rejeitarão”
“Eu devo evitar situações que atraia atenção ou
ficar o mais despercebido possível”
“Ser exposto como inferior ou inadequado será
intolerável”
Transtorno da Personalidade
Obsessivo-Compulsivo – estratégia: perfeccionismo
Crença fundamental: “Eu não posso errar”
“Os detalhes são extremamente importantes”
“É importante fazer com perfeição tudo o que se
faz”
“As pessoas deveriam fazer as coisas à minha
maneira”
“Se não tivermos esquemas, tudo acaba dando errado”
Transtorno da Personalidade
Narcisista – estratégia: auto-engrandecimento
Crença fundamental: “Eu sou especial”
“Eu não preciso seguir regras que se aplicam às
outras pessoas”
“Já que sou tão superior, mereço tratamento e
privilégios especiais”
“As outras pessoas não merecem a admiração e a
riqueza que conseguem obter”
“Já que sou tão talentoso, as pessoas deveriam
fazer o possível para promover minha carreira”
Transtorno da Personalidade
Histriônica – estratégia: dramaticidade
Crença fundamental: “Eu preciso impressionar”
“Eu sou inadequado e incapaz de lidar sozinho com
as situações”
“Eu preciso que os outros tomem conta de mim”
“Eu preciso que eles me notem e gostem de mim”
Transtorno da Personalidade Passivo-agressiva – estratégia: resistência
Crença fundamental: “Eu poderia ser controlado”
“Ninguém deve me dizer o que fazer”
“Eu não posso depender de ninguém”
“Submeter-se significa que não tenho nenhum
controle”
“Expressar raiva pode me trazer dificuldades”
Transtorno da Personalidade
Anti-social – estratégia: ataque
Crença fundamental: “Os outros estão aí para serem
explorados”
Transtorno da Personalidade
Esquizoide – estratégia: isolamento
Crença fundamental: “Eu preciso de muito espaço”
“Eu sou diferente, sem valor, desinteressante e
anormal”
“As outras pessoas são cruéis, perigosas e não
merecem confiança”
“O mundo é hostil”
Transtorno da Personalidade
Paranoide – estratégia: cautela
Crença fundamental: “as pessoas são perigosas”
“As pessoas tirarão vantagens de mim se eu lhes der
chance”
“Os outros tentarão me usar ou manipular se eu não
tomar cuidado”
“Tenho de ficar em guarda o tempo todo”
“Se as pessoas agirem amistosamente, podem estar
tentando me usar ou explorar”.
Conclusão
Como sempre
digo aqui no site, é importante notar que tais definições de transtornos ou
doenças mentais são uma referência para o psicólogo, para o psiquiatra, para o
médico. Não são a verdade última e estão em constante reformulação.
Se, por
ventura, você se identificou com alguns destes tipos de crenças pressentes nos
transtornos de personalidade, isso não significa que você tenha este
transtorno. Afinal, tais frases podem aparecer como pensamentos de tempos em
tempos em nossa mente.
Contudo, se
você acredita que tais pensamentos estão te prejudicando e causando sofrimento,
você pode procurar os profissionais citados acima para uma avaliação detalhada
e tratamento.
Fonte: www.psicologiamsn.com