Depois do feijão, quais podem ser os próximos
vilões da inflação?
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caption Produzido principalmente no Brasil, feijão carioquinha encareceu 54%
neste ano, segundo IPCA-15
O feijão tomou o lugar do tomate como alimento que
anda pesando no bolso dos brasileiros. O preço do carioca, variedade popular no
Sudeste, subiu 54,09% até junho, segundo o IPCA-15, índice do IBGE considerado
como a prévia da inflação.
No ano passado, uma caixa de tomates chegou a
custar o dobro do que em 2014. Com a inflação ainda alta, muita gente se
pergunta: qual vai ser o próximo vilão das compras?
Para tentar responder, conversamos com
economistas e especialistas no mercado de agronegócio. Segundo eles, os itens
que podem causar mais preocupação nas próximas semanas são o leite, o milho e o
arroz.
O clima é o fator comum em todas as altas, explicam
os entrevistados. A distribuição irregular de chuvas neste ano prejudicou a
produção dessas culturas.
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caption Fortes chuvas no RS afetaram produção do arroz e podem continuar
elevando os preços
Arroz
No caso do arroz, as tempestades no Rio Grande do
Sul - maior produtor - em abril atrasaram a colheita e causaram uma quebra de
15% na safra. Com menor oferta, os preços cresceram 5,21% até junho, segundo
dados do IPCA-15. E devem continuar aumentando até as próximas colheitas, no
começo de 2017.
"De acordo com o nosso levantamento, no
município de São Paulo variou 6,28% neste ano. E vai subir significativamente
nos próximos dois meses", diz o pesquisador Vagner Martins, do Instituto
de Economia Agrícola.
Pode parecer que 6% é pouco, mas a alta é
preocupante para um elemento essencial da cesta básica, pondera Martins.
"Às vezes há uma confusão em destacar quedas
expressivas de produtos de pouca relevância. Qual a importância da pera no
prato do brasileiro? Em contrapartida, o peso do feijão e do arroz têm grande
peso na inflação."
O encarecimento do arroz, no entanto, não deve ser
tão dramático como o do feijão. Isso porque há variedades da leguminosa, a
exemplo do carioca, que são principalmente produzidos no Brasil, dificultando a
importação.
A medida (a importação do feijão) foi anunciada
pelo presidente Michel Temer na semana passada para segurar os preços mas,
segundo os entrevistados, não deve ser muito eficaz.
"Importar feijão? Da onde? Até tem um pouco no
Paraguai, na Argentina, mas (a quantidade) é marginal. O feijão carioca que a
gente gosta só nós produzimos. Além disso, o feijão não tem substituto, não dá
para fazer lentilha no lugar", diz o professor do núcleo de estudos de
agronegócios da FGV Felippe Serigati.
O mesmo não acontece com o arroz, consumido e
vendido por diversos países.
De acordo com Serigati, como o ciclo de produção do
feijão é mais curto e não há impeditivos para que ele volte ao normal, os
valores devem diminuir até o fim do ano.
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caption Preço do milho no Brasil sobe impulsionado pelo valor no mercado
internacional
Leite e milho
Se as altas da dupla arroz e feijão podem ser
passageiras, há outras consideradas mais duradouras pelos especialistas.
As do milho e do leite, por exemplo, são vistas
como estruturais e, portanto, mais preocupantes.
O milho é um dos principais componentes da ração
das vacas leiteiras e registrou um crescimento expressivo em 2016. Ausente no
IPCA-15, um de seus representantes no indicador, o fubá, encareceu 13% até
junho. Já o leite subiu 18% no mesmo período e se aproxima de um patamar
inédito.
Os entrevistados explicam que a alta do milho se
deve à procura no mercado internacional, no qual o Brasil se tornou um vendedor
importante. Nos últimos anos, o país acelerou a produção do alimento, conseguiu
exportá-lo mais barato e teve grande demanda dos compradores, o que acabou
elevando os valores lá fora. O aumento chegou ao mercado interno.
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caption Preço do leite subiu 18% até junho e se aproxima de patamar inédito,
dizem especialistas
Com o milho caro, a ração aumenta e os produtores
de leite têm que desembolsar mais para alimentar suas vacas. A alta é repassada
para o consumidor. Além disso, as chuvas fortes no começo do ano prejudicaram
as pastagens e as estradas de transporte, dificultando a produção e diminuindo
a oferta.
A crise também afetou o setor já que, com menos
dinheiro, o brasileiro está cortando derivados. Dados do IPCA-15, a prévia da
inflação, mostram que a manteiga, por exemplo, subiu 41,89% neste ano. Com
demanda menor, a indústria processadora, por sua vez, compra menos dos
produtores.
"Os custos altos e a receita baixa acaba
desestimulando o trabalhador da área. Ouvimos relatos de pessoas que estão
saindo da atividade, porque não estava mais compensando. Eles migram para a
pecuária de corte, cruzam suas vacas com bois reprodutores", diz o
pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da USP,
Wagner Yanaguizawa.
Um menor número de produtores significa menos
oferta de leite, o que também puxa os preços para cima.
"Esse choque não é temporário, é estrutural.
Há risco de valores maiores nas próximas safras", afirma Serigati.
Fonte:
BBC Brasil
Gaspar
Moura dos Santos
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