Bem-vindo
a Júpiter: após missão arriscada, sonda entra na órbita de planeta mais antigo
do Sistema Solar
Image copyright AP Image caption Scott
Bolton, o cientista que lidera a missão Juno da Nasa, e Rick Nybakken, diretor
do projeto, comemoram a entrada da sonda na orbita de Júpiter
Depois de viajar quase cinco anos pelo Sistema
Solar, a sonda espacial Juno ingressou na órbita de Júpiter na madrugada desta
terça-feira.
O veículo da Nasa, a Agência Espacial Americana,
completou com sucesso uma arriscada manobra de 35 minutos que deixou os
cientistas com os nervos à flor da pele: acionar motores para frear a sonda e
permitir que fosse atraída pela gravidade do maior planeta do Sistema Solar.
"Juno, bem-vindo a Júpiter", gritavam os
cientistas no centro de controle de missão no Laboratório de Propulsão a Jato
(JPL, na sigla em inglês), em Pasadena, na Califórnia, mal a sonda emitiu
"batimentos" - sinais sonoros - confirmando o sucesso da operação.
"Estou muito emocionado. Toda a equipe está
emocionada. Foi uma jornada incrível", disse o líder da equipe, Scott
Bolton.
"Finalmente, estamos lá. Júpiter é o rei do
nosso sistema solar, o maior (planeta). Queremos ver o que contém, como se
formou, conhecer seus verdadeiros segredos. Mas esses segredos são bem
guardados por Júpiter."
Image copyright NASA/EPA Image
caption Juno deve orbitar ao redor de Júpiter mais de 30 vezes
A missão custou U$ 1,1 bilhão e tem como objetivo
desvendar os mistérios sobre a origem e evolução de Júpiter, na expectativa de
se aprender mais sobre a formação de outros planetas.
A sonda é batizada em referência à mitologia
greco-romana, segundo a qual Júpiter se rodeou de um véu de nuvens para
esconder sua maldade. Foi a mulher dele, a deusa Juno, quem conseguiu adentrar
esse véu e revelar a natureza real de Júpiter.
Como na mitologia, Juno deu nas primeiras horas
desta terça-feira o primeiro passo para penetrar as espessas nuvens de Júpiter
- onde passará 18 meses analisando informações.
Segredos de Júpiter
Júpiter é 11 vezes maior do que a Terra e tem 300
vezes a massa de nosso planeta. O planeta precisa de 12 anos terrestres para
completar uma volta em torno do Sol, mas um dia em Júpiter é equivalente a
apenas dez horas na Terra.
Nas próximas semanas, a sonda deve enviar mensagens
da missão pioneira - diversos equipamentos tiveram de ser desligados na
terça-feira em preparação para a arriscada manobra que colocou Juno mais próxima
de Júpiter.
Os cientistas acreditam que Júpiter foi o primeiro
planeta a se formar após o Sol, e eles esperam que isso dê pistas sobre a
formação de outros planetas.
Image copyright AP Image caption Entre alívio e
júbilo, cientistas comemoram na sede da Nasa em Pasadena, Califórnia
A missão visa descobrir se há um núcleo sólido ou
se os gases simplesmente se comprimem em um estado mais denso no centro do
planeta.
Também deve fazer novas descobertas sobre a Grande
Mancha Vermelha - a tempestade colossal que já dura centenas de anos no
planeta. Juno deverá esclarecer qual a profundidade desta tempestade.
Juno é apenas a segunda sonda a entrar na órbita de
Júpiter. A sonda Galileo passou oito anos pesquisando o planeta e suas muitas
luas. Mas, exceto por um veículo lançado de paraquedas na atmosfera de Júpiter,
a Galileo não tinha as ferramentas que Juno tem para analisar o que acontece
abaixo das nuvens do planeta.
Armadura
Mas mesmo tendo cumprido a delicada missão de
entrar na órbita de Júpiter, a sonda vai entrar em um ambiente hostil e
desconhecido.
Para enfrentar esse desafio, a sonda Juno carrega
seus elementos eletrônicos mais sensíveis e sistemas de controle dentro de uma
caixa de titânio de paredes espessas.
A engenheira do JPL Heidi Becker afirmou que o
sucesso da missão vai depender totalmente da proteção que a sonda Juno recebe
de sua "armadura".
"(Sem isso) Juno enfrentaria uma radiação de
mais de 20 milhões de rads, que é como se um ser humano fizessem cerca de 100
milhões de radiografias dentais em pouco mais de um ano", afirmou.
Image copyright NASA Image
caption Nenhuma outra sonda movida a energia solar funcionou tão longe do Sol e
por isso Juno tem painéis tão grandes
Mas a sonda da Nasa só conseguirá obter os dados
que os astrônomos querem quando chegar a 5 mil quilômetros acima da capa de
nuvens - nunca uma sonda vai ter chegado tão perto de Júpiter.
Uma das buscas mais importantes de Juno será
determinar a abundância de água na atmosfera, um indicador de quanto oxigênio
havia na região do Sistema Solar onde Júpiter estava quando se formou.
A entrada em órbita da sonda colocará Juno em uma
grande elipse em volta do planeta, que deve precisar de cerca de 53 dias para
completar uma volta inteira.
No meio do mês de outubro, deve ocorrer uma segunda
frenagem da sonda para diminuir a órbita para apenas 14 dias. E é a partir daí
que as grandes descobertas devem começar.
A Nasa planeja continuar com essa missão até
fevereiro de 2018.
O controle na Terra então dará ordens para que a
Juno encerre suas operações e caia na atmosfera do planeta.
Image copyright NASA Image caption Um dia em
Júpiter dura 10 horas terrestres
Fonte:
BBC Brasil
Gaspar
Moura dos Santos
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