As
emoções não são a causa do comportamento
Por Professor Felipe de Souza
Por incrível
que pareça, este é um fato comprovado. As emoções não são a causa de agirmos de
um jeito ou de outro. Sabe quando dizemos uma frase como: “eu estava com raiva,
por isso briguei com ele”? Em frases parecidas, procuramos explicar o nosso
comportamento (brigar) através de uma causa que seria uma emoção (raiva).
Para a
psicologia comportamental, normalmente, esta é apenas e tão somente uma
justificativa que não se comprova na prática. Afinal, há a possibilidade de
brigar, sem sentir raiva ou sentir raiva e não brigar. Também existe, com
certeza, a possibilidade de que os dois eventos ocorram ao mesmo tempo:
sentimos raiva e brigamos. Porém, ainda que os eventos possam ser simultâneos,
isso não significa que um seja a causa de outro.
As causas do comportamento
Na
psicologia comportamental, o comportamento é determinado pela relação de dois
fatores básicos: a genética (que faz com que pertençamos a uma espécie) e ao
ambiente (a história que o organismo – o individuo neste caso – foi exposto).
Para
começarmos a analisar porque um comportamento ocorre, quando e como ocorre,
fazemos uma distinção didática de uma relação de 3 termos:
– o que
acontece antes
– o
comportamento
– o que
acontece depois
Se o que
acontece depois aumenta o comportamento nas vezes seguintes em que a situação é
similar, falamos que há uma consequência que reforça o comportamento. Reforçar,
pela definição, é o que faz com que o comportamento aumente de frequência.
Se, por
outro lado, o que sucede o comportamento faz com que o comportamento diminua,
dizemos que há uma consequência punitiva, há uma punição, pois a punição é o
que faz com que o comportamento diminua de frequência.
De modo que,
em uma análise funcional do comportamento, só poderemos dizer que o
comportamento é reforçado ou punido se analisarmos uma série de emissões do
comportamento de uma única classe.
Reforço e punição (positivo e
negativo)
Existe um
estudo muito interessante chamado “O efeito de contingências de reforçamento
programadas sobre o relato de eventos privados” no qual os pesquisadores
avaliam os efeitos do reforçamento e punição no relato de estados privados
(emoções).
Os autores
escrevem: “Este experimento examinou apenas os efeitos das operações básicas de
reforçamento (positivo e negativo) e punição (positiva e negativa). Catania
(1998/1999) refere estes termos da seguinte maneira: “um estímulo é reforçador
positivo se sua apresentação aumenta o responder que o produz, ou um reforçador
negativo se sua remoção aumenta o responder que o suspende ou o adia” (p. 418);
e “um estímulo é um punidor positivo, se sua apresentação reduz a probabilidade
de respostas que o produzem ou um punidor negativo, se sua remoção reduz a
probabilidade de respostas que o terminam” (p. 416).
Em outras
palavras, o reforçamento positivo ocorre quando há a introdução de um estímulo
e esta introdução faz com que aconteça o aumento do comportamento. Um
trabalhador realiza o seu trabalho (comportamento) e, como consequência, recebe
dinheiro. Neste caso, o dinheiro é o estímulo que é introduzido e faz com que o
trabalho aumente de frequência.
No
reforçamento negativo, há a retirada de um estímulo e, em virtude disso, o
comportamento aumenta. O comportamento de tomar um comprimido para a dor de
cabeça é reforçado quando a dor (o estímulo) é retirada.
A punição,
como vimos, faz com que o comportamento diminua de frequência. A punição
positiva acontece quando o comportamento diminui de frequência com a introdução
de um estímulo. Se uma pessoa ingere bebida alcóolica (comportamento) e, em
consequência, aparece uma forte dor de cabeça, o comportamento de beber diminui
porque há a introdução de um estímulo (a dor de cabeça).
Na punição
negativa, há também a diminuição do comportamento só que com a retirada de um
estímulo. O trabalhador para de trabalhar (comportamento) ao não receber o seu
salário (estímulo).
Voltando ao
início do nosso texto, na perspectiva da psicologia comportamental, as emoções
podem ocorrer antes, durante ou depois de um esquema de reforçamento ou
punição. Mas não devemos atribuir às emoções a causa do comportamento e sim às
consequências advindas do comportamento.
O estudo
mencionado acima explica no resumo:
“Este
experimento investigou o controle de contingências programadas sobre eventos
privados do tipo sentir, empregando um procedimento que eliciou tais eventos e
evocou o tacto dos mesmos, elucidando como as contingências de reforçamento
programadas se relacionam com tactos de eventos privados. Participaram 20
estudantes, de ambos os sexos (11-14 anos) que executaram tarefas do software
Psychotacto2.0.
O software
simulou quatro contingências básicas (reforço e punição, positiva e negativa)
coletando relatos verbais sobre sentimentos em cada contingência.
Resultados:
Em cada fase, predominaram os relatos:
Reforçamento
Positivo: contentamento, ansiedade, satisfação e alegria;
Punição
Negativa: frustração, desapontamento, tristeza e apreensão;
Punição
Positiva: raiva, aborrecimento, ansiedade, apreensão e
medo;
Reforçamento
Negativo: ansiedade, apreensão e alívio.
Conclui-se
que a exposição às contingências pode eliciar eventos privados do tipo sentir e
produzir tactos que coincidem em grande parte com os tactos “esperados” em cada
contingência, de acordo com análises teóricas dos estudos em Análise do
Comportamento”.
Conclusão
Assim,
apesar de que as emoções talvez apareçam um pouco antes, durante ou logo após
um comportamento, temos que aprender a separar a causalidade ou, mais
especificamente, as relações funcionais. E porque isto é tão importante?
Porque o que
vai aumentar ou diminuir um comportamento não será a emoção e sim as
consequências do comportamento.
Por exemplo,
sabemos que o facebook faz tanto sucesso – as pessoas se comportam ali
publicando, comentando, curtindo – porque o comportamento é constantemente
reforçado positivamente e em um esquema bastante eficaz, pois é intermitente
(nunca sabemos quando seremos reforçados).
Se, por um
problema ou alteração no código, as notificações pararem totalmente, o
comportamento de publicar, curtir e comentar certamente diminuirá. Ao mesmo
tempo, certas emoções talvez apareçam como frustração (neste caso, a
retirada das notificações é uma punição negativa). Entretanto, tentar se
motivar, tentar superar a frustração não será eficaz para que o comportamento aumente
e sim voltar a ter as consequências do meio.
Ou seja,
procurar mudar como nos sentimentos é ineficaz – na maioria dos casos – para o
que o comportamento seja modificado. O que modifica o comportamento são as
consequências do meio em que estamos inseridos.
Fonte: www.psicologiamsn.com
Gaspar
Moura dos Santos
Obrigado
por acessar esta página, deixe seu comentário e sugestão sobre esse artigo, e o
que você gostaria de ver nos próximos artigos?