Por Professor
Felipe de Souza
Reclamar é um comportamento mantido pelas consequências. Entenda.
Há um tempo atrás, publiquei aqui no site o desafio de ficar 21 dias sem reclamar. O objetivo não seria tanto criar um comportamento governado por
regras, mas sim provocar o autoconhecimento, a percepção dos momentos em que há
a probabilidade de reclamar, bem como as causas de agir desta forma.
Neste texto,
vamos analisar porque o comportamento verbal de reclamar pode ser tão
frequente, ainda que geralmente não traga quase nunca nenhuma mudança sobre o
que se reclama.
Comportamento verbal: mando
Em resumo, o
operante verbal definido por Skinner como mando consiste no tipo de
comportamento verbal que altera o meio com o intermédio de uma outra pessoa.
Geralmente sob uma privação, a pessoa fala para a outra é é reforçada pela ação
dessa outra pessoa.
Por exemplo,
se estou com fome, posso pedir para alguém me trazer uma fruta. O mando é o
mandar, mas também o solicitar, o pedir, assim como o exigir, o demandar.
Existem mandos que são mandos disfarçados, quase como uma sugestão: “hum, uma
lasanha agora cairia bem” e o nosso ouvinte é capaz de fazer essa lasanha e
faz.
Quando
crianças, dizemos muitos mandos porque na maior parte das vezes somos
reforçados, ou seja, recebemos aquilo que pedimos. Com o tempo, e dependendo da
história e do ambiente de cada um, podemos não receber mais tanto o que
queremos ou precisamos.
Acontece que
o comportamento verbal tem, digamos, um baixo custo. Afinal, é mais fácil dizer
sobre a lasanha do que fazer a lasanha. Além do que o comportamento reforçado
às vezes sim e às vezes não tende a se manter por bastante tempo.
Uma
reclamação, não raro, apresenta-se como um mando disfarçado: “tenho tanta conta
para pagar” (dizendo para alguém que pode emprestar ou dar dinheiro).
Comportamento verbal: tacto
O tacto, por
sua vez, é um operante verbal que está sob o controle de estímulos e o reforço
é geralmente a aprovação: mexer a cabeça de cima para baixo, sorrir, dizer
aham, sim, é…
Quando uma
criança vê um relógio e diz: “um relógio” ela está “tacteando” o ambiente
e “descrevendo-o”. Se escondemos o relógio e perguntamos o que ela viu e ela
diz que “era um relógio” ela também está tacteando, apenas o estímulo não
encontra-se mais presente.
Uma
reclamação também pode ser um tacto. Se alguém descreve para nós uma briga com
o chefe que aconteceu de manhã, ela estará apenas descrevendo algo que viu,
ouviu e sentiu como a criança que fala sobre o relógio. E estes comportamentos
são mantidos por reforço não de mudarem um estado de privação como no mando,
mas pela aprovação de um auditório.
É curioso
como esse comportamento de reclamar acaba sendo muito forte. Mas se a pessoa
encontra alguém que não a reforce e diga: “pare de reclamar” o efeito desta
punição não será a extinção do comportamento. Aquele ou aquela que reclama vai
somente encontrar um outro auditório, uma outra pessoa para reclamar.
E, em último
caso, se não encontrar ninguém, vai reclamar trazendo o comportamento verbal
para o nível encoberto, ou seja, vai pensar em vez de falar. Ou então vai
postar em uma rede social na qual um amigo vai, virtualmente, curtir a
reclamação.
Como parar de reclamar?
Se não
queremos ouvir a reclamação alheia, podemos, educadamente, não reforçar o
comportamento, saindo do ambiente em que estamos, desligando a ligação ou,
talvez, mudando de assunto. Mas temos que ter consciência que não vamos
provavelmente controlar o comportamento da outra pessoa, cuja história de
reforçamento pode ser muito longa e forte.
Agora, se
queremos mudar o nosso comportamento de reclamar, temos que perceber o que
obtemos com a reclamação. A reclamação muda diretamente o ambiente como um
mando? (Como a mãe que reclama da bagunça e os filhos então arrumam a casa). Ou
a reclamação é mantida porque temos queridos amigos ou familiares bons ouvintes
que aceitam de bom coração tudo o que falamos?
Sabendo da
função do ato de reclamar, temos mais condições de mudar. Uma forma bastante
eficaz não é tentar suprimir a reclamação, mas substituir por um outro
comportamento. Vi o relato, esses dias, de uma pessoa religiosa que substituiu
a reclamação por orações.
Mas não
precisa ser a substituição por um comportamento religioso. Podemos substituir a
reclamação por um agradecimento ao que já temos. Ou talvez fazer qualquer outra
coisa, como correr ou ver um bom filme ou ler um bom livro.
Conclusão
O
comportamento verbal muitas vezes parece ser mágico. Não precisamos pensar no
extremo de quem disse que queria que a chuva parasse e de repente parou (e
ficou supersticioso como a dança da chuva). O comportamento verbal parece
mágico porque emitimos alguns sons e isso pode vir a alterar os eventos
externos.
Eu escrevo:
“compartilhe este texto com seus amigos” e você compartilha. Uma frase afeta o
comportamento de uma outra pessoa.
No caso da
reclamação, com dois operantes verbais estudados na psicologia comportamental
de Skinner, conseguimos explicar o que mantém – e o que extingue – o
comportamento de reclamar.
A mãe que
reclama da bagunça e é reforçada em seguida com a arrumação, provavelmente
reclamará no futuro, já que a reclamação é um mando.
A mulher que
reclama do comportamento do marido (para uma outra pessoa) não será reforçada
pela mudança do comportamento do marido, mas continua reclamando porque tem
alguém que aprova ou pelo menos ouve o que aconteceu e é desagradável.
Fonte: www.psicologiamsn.com