Até quando os bancos vão
roubar o seu dinheiro?
Por Felipe Miranda
É muito provável que você não se lembre, mas eu já
escrevi para O Antagonista. Mantinha uma coluna semanal, batizada de Pataca,
Felipe, um blend jaboticaba em alusão às patacas (dinheiro) e àquela
famosa marca de relógios.
Parei por falta de tempo e – confesso --
incapacidade de gerar ideias relevantes em frequência semanal. Sabe como é:
para o Mario e para o Diogo – meu sócio Rodolfo também é assim – as ideias
fluem como o ar penetra pelas narinas e preenche os pulmões. Para mim, não.
Cada novo texto é um parto natural, desde a originação do raciocínio até sua
formulação em palavras. Conjunções e orações subordinadas, então, nossa... Uma
semana não é tempo suficiente para fecundação, gestação, contração...
Meses se passaram e, com a estruturação desta
newsletter, Mario e Diogo voltaram a me convidar para contribuir. Eu,
obviamente, continuava como leitor assíduo – a palavra correta seria obsessivo
– e, no fundo, sabia que podia colaborar com um ou dois temas esporadicamente.
Até o André Feijoada marca seus gols de vez em quando.
Ainda que o processo fosse doloroso, era
também recheado de prazer. Eu hoje tenho menos tempo do que antes. Tenho também
menos cabelos agora – e não posso perder os poucos restantes buscando novas
ideias interessantes. As poucas que me restam uso nos relatórios da Empiricus.
Acima de tudo isso, entretanto, está um negócio
chamado vocação. Eu estudei durante toda a infância e adolescência no Colégio
São Luís. Alma jesuíta, entende? Então, eu realmente acredito que você tem um
chamado a atender.
Ok, ok, eu também não entro numa igreja há mais de
ano. Ao falar da alma, me refiro àquilo que você tem de mais íntimo e visceral
lá dentro de você, os seus imperativos categóricos. Alma no sentido definido
por James Hilman em Soul's Code, o seu daimon, um negócio lá dentro que nem
você mesmo consegue entender.
Você não pode trair essa alma, pois ela há de se
vingar de você. Seu daimon tem seus próprios ancestrais e você não vai
conseguir fugir deles.
A minha alma é de um alocador de recursos
financeiros, próprios e de terceiros. Sou aquele sujeito que procura as
melhores oportunidades de investimento disponíveis no mercado. Em palavras mais
diretas: busco as melhores alternativas para ganhar dinheiro, para mim e para
os outros. Esta é a minha vocação, 24x7.
E aqui entra o meu encontro cirurgicamente preciso
com esta turma. Se você realmente é um alocador de recursos – e isso é muito
diferente de apenas estar um alocador de recursos – você é um antagonista.
Deixe-me explicar um pouco melhor, pois isso talvez
seja novo para você.
Todas as oportunidades de investimento
disponíveis no mercado refletem um cenário de consenso. As cotações na tela da
Bovespa ou do Tesouro Direto não resultam da aleatoriedade. Aquela ação vale
tanto porque tem-se uma certa expectativa de consenso para seus lucros (sendo
mais preciso, fluxos de caixa) futuros. Um determinado título público paga tal
taxa de juro porque há uma projeção mediana sobre o que o Copom fará com a taxa
Selic. Para o fundo imobiliário, estimam-se os fluxos esperados para os
alugueres. E por ai vai.
Então, meu caro, se você tiver apenas a visão de
consenso, ou seja, se você gostar do protagonista deste filme, você vai apenas
ter retornos para seus investimentos em linha com a média, pois essa visão já
estará refletida, previamente, nos preços.
Ou, provavelmente, seus rendimentos serão ainda
piores, porque o investidor pessoa física arca com custos operacionais (taxas
de administração, performance, corretagem, emolumentos) superiores aos
profissionais. Você já começa o jogo para ser o grande perdedor.
Você é quem paga a festa
toda.
Todo verdadeiro caçador de boas oportunidades
mantém posições contrárias àquelas de consenso. Se não for assim, ele existe
apenas para fazer a roda girar, sendo o responsável por alimentar bancos,
corretoras e governos com suas incontáveis taxas e impostos.
No mercado, ou você é um antagonista, ou você é, no
máximo, um medíocre, o que já seria uma vitória.
Eu precisava lhe dizer essas palavras. Para
alimentar a minha alma. O protagonismo dos mercados financeiros está com os
bancos e com as corretoras. Você precisa atacar esses caras, hoje e agora.
Talvez eu não tenha ainda sido suficientemente
preciso em minhas considerações. Permita-me esclarecer o ponto com apenas dois
exemplos materiais. Algo precisa ficar claro aqui: se você deixa seu dinheiro
investido no banco hoje, você está sendo literalmente roubado. Não há espaço
para eufemismo.
O primeiro exemplo se refere à poupança – eu não
começo por ela numa escolha randômica; faço questão de iniciar por aqui porque
a maior parte da população brasileira deixa seu dinheiro na velha caderneta. E
qual o resultado disso? Você simplesmente está destruindo seu patrimônio e
transferindo riqueza para o governo.
Esclareço: hoje, a poupança rende menos do que a
inflação. Ou seja, ao deixar seu dinheiro ali, você perde poder de compra a
cada mês. E quem se beneficia da inflação? O governo, através de um mecanismo
chamado senhoriagem.
Mas eu não quero tornar o assunto muito técnico. O
recado aqui é bastante simples: você precisa tirar o seu dinheiro da poupança,
imediatamente.
Vou ao segundo exemplo. Ele surge como corolário do
primeiro. Qual o caminho primeiro e mais natural para o sujeito que percebe a
necessidade de tirar a grana da poupança? O cara, convencido pelo gerente,
aplica no fundo DI do banco. Esse mesmo fundo que cobra 1,5%/2% de taxa de
administração ao ano, para não fazer administração nenhuma – em um fundo DI,
não há inteligência; o gestor pega a sua grana e aplica em títulos públicos,
sem pensar. Todos fazem isso.
Há um nome bastante popular para isso: roubo.
Esses são apenas dois exemplos mais óbvios dessa
brincadeira toda. Pense comigo: o gerente de seu banco está interessado em
gerar resultados para quem: para você, para si ou para o próprio banco? Eu
tenho alguns palpites e certamente não apontam para a primeira opção.
O que você faria se estivesse doente: consultaria a
um médico de confiança para saber qual medicação deve tomar ou iria até uma
indústria farmacêutica perguntar se vale a pena tomar algum de seus remédios,
que podem ser comprados ali mesmo pela simbólica quantia de R$ 249,00 por
caixa?
Macacos ainda gostam de bananas.
Nem bancos, nem corretoras.
Fonte:
O Antagonista
Gaspar Moura dos Santos