Após impeachment, MBL lançará nomes na política e promete atos contra
ministros investigados na Lava Jato
Kim Kataguiri, coordenador nacional do MBL, durante
protesto
contra a presidente Dilma na avenida Paulista
À frente das maiores manifestações pelo impeachment
de Dilma Rousseff, os grupos MBL (Movimento Brasil Livre) e Vem Pra Rua iniciam
agora um período de transição e mudança de foco.
Em entrevista à BBC Brasil, o líder do MBL, Kim
Kataguiri, afirma que o movimento lançará candidatos nas eleições municipais
deste ano e se envolverá mais em temas locais, como a máfia da merenda, que
investiga fraudes nas compras de refeições distribuídas em escolas públicas do
Estado de São Paulo. Membros do movimento concorrerão a prefeituras de diversas
cidades do país, como Vinhedo e Louveira, no interior paulista, e até capitais,
como Curitiba, no Paraná.
Na capital paulista, o membro do MBL Fernando
Holliday, que defendeu a regulamentação do aplicativo Uber em uma acirrada
discussão com o vereador Adilson Amadeu (PTB), se candidatará a vereador pelo
DEM. O MBL terá candidatos em diversos partidos, como PSDB e PSC.
"O que foi acordado é que os candidatos do
MBL, além de poderem fazer a campanha usando o logo do movimento, tenham
liberdade para defender nossas ideias, independentemente da liderança
partidária, (...) de maneira isenta", diz Kataguiri.
Kataguiri afirma que a intenção do MBL é mostrar
que "nosso modelo de Estado funciona e deve ser aplicado a nível
federal".
Questionado se a imagem do movimento poderia ser
prejudicada caso algum de seus membros se envolva em escândalos de corrupção ou
polêmicas, ele respondeu que "a gente tem essa preocupação, mas faz o
máximo para que isso seja minimizado. É muito difícil que um membro nosso
desrespeite as bases e queira se tornar um inimigo político. Se houver membro
do MBL envolvido em caso de corrupção, todo o movimento vai se voltar contra
ele".
Rogério Chequer, do movimento Vem Pra Rua, durante
protesto
na avenida Paulista contra o governo Dilma
Por outro lado, Rogério Chequer, líder do movimento
Vem Pra Rua, diz que nenhum membro se lançará como candidato. "Não vamos
assumir uma posição partidária. Precisamos estar aptos a criticar e monitorar
qualquer partido. É uma escolha do movimento", afirma.
Para o cientista político e professor da FGV
Claudio Couto, é natural que esses movimentos se direcionem à política.
"Se você considerar que eles perderiam o ímpeto como movimento e
definhariam sem uma causa, ir para a política partidária é um ganho. Há o risco
de a base desse movimento ver uma incoerência, mas eu não vejo outro espaço
para atuarem", diz.
Couto afirma que movimentos sociais de esquerda
passaram pela mesma situação quando o PT chegou à Presidência. "Na década
de 1970 e 1980, você tinha movimentos sindicais, de mulheres, ambientalistas, e
todos foram para o PT. Quando virou governo, esses movimentos esfriaram. Muitas
pessoas criticam, mas não vão ficar contra o seu governo. Vira um casamento e
eles tendem a dar uma amansada".
Governo Temer
Em relação ao governo do presidente da República
interino, Michel Temer, ambos os movimentos dizem não ver motivo para
impeachment. Mas afirmam que não vão permitir que ministérios sejam assumidos
por pessoas investigadas na operação Lava Jato.
Kim Kataguiri afirma que o MBL fará manifestações
contra a nomeação dos sete ministros da gestão Temer que são investigados pela
Lava Jato. "A gente com certeza vai fazer, mas, como o anúncio foi ontem
(quinta-feira), ainda não temos planejado como serão."
"A gente criticou a indicação de Leonardo
Picciani (à pasta de Esportes), que foi um dos maiores cães de guarda da Dilma
na Câmara dos Deputados e votou contra o impeachment. Não faz sentido ele fazer
parte de um governo que ele considera inconstitucional e golpista", diz
Kim.
O Vem Pra Rua seguirá a mesma linha. "A gente
só tem que separar quem está sendo investigado de quem já tem denúncia e já é
réu. Qualquer pessoa pode ser mencionada, mas a gente precisa avaliar em qual
estágio isso se encontra", diz Rogério Chequer.
Novos alvos
Com seu principal anseio concretizado em âmbito
nacional, Kim Kataguiri afirmou que o MBL vai abordar uma das principais
polêmicas que envolve a gestão do governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB).
"A gente pretende fazer manifestações contra a máfia da merenda, (após
suspeitas) que foram levantadas sobre o presidente da Assembleia, Fernando
Capez, do PSDB. Temos planos para atuar nisso, mas eu ainda não posso falar
quais", diz.
Alckmin e o também tucano Aécio Neves foram
hostilizados em um dos protestos promovidos pelo MBL contra a presidente Dilma
Rousseff neste ano. Na época, eles fariam um discurso na avenida Paulista, em
São Paulo, mas foram hostilizados por manifestantes, que os chamaram de
"bundões" e "oportunistas", e deixaram o local após meia
hora.
Presidente
da Assembleia Legislativa de São Paulo e investigado na Máfia da Merenda,
Fernando Capez
O Vem Pra Rua, por outro lado, não planeja
participar de protestos locais ou apoiar outros movimentos sociais.
"Estamos abertos a apoiar ações. Apoiamos as dez medidas contra a
corrupção (propostas pelo) Ministério Público Federal, e o fim do conteúdo
ideológico nas escolas, o Escolas sem Partido", disse Chequer.
O Vem Pra Rua também deve promover ações para
incentivar a renovação política dos partidos "e aumento da
representatividade dos eleitores". Defendem o voto distrital e o recall
como o caminho para tal.
Eduardo Cunha
Kim Kataguiri teve a sua imagem ligada ao
presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, após posar ao lado
dele em uma foto em maio de 2015. Ele e outros membros do MBL aparecem em tom
de comemoração ao lado do parlamentar após protocolarem um processo de
impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff.
Kataguiri afirma que nunca teve uma relação próxima
a Cunha e que aquela foto foi protocolar. "Não houve nenhum momento de
intimidade ou negociação com Cunha. Se dependesse de nós, ele já estaria
preso".
Kim
Kataguiri e outros membros do MBL ao lado de Eduardo Cunha e outros políticos
em Brasília
No fim de semana da votação do impeachment na
Câmara dos Deputados, em abril, o próprio Cunha defendeu membros do MBL de uma
acusação de falsificação de crachás. Os jovens foram acusados de circularem
pelo local, de acesso restrito, com as credenciais de servidores da Casa.
Na época, Cunha se prontificou a dizer que Kim
Kataguiri, Renan Santos e Rubens Nunes foram convidados pela Mesa Diretora da
Casa e não estavam cometendo nenhuma fraude.
Kim, por sua vez, defende que a pena contra Cunha
não fique restrita à sua suspensão do comando da Câmara.
"A gente defende não só que ele seja afastado,
mas que ele seja cassado e que, ao que tudo indica, sendo réu, que acabe indo
para a cadeia. Ele já não tem a mínima condição de permanecer como presidente
da Câmara dos Deputados porque as acusações são muito graves e, ao mesmo tempo,
ele não tem uma defesa coerente para rebater essas acusações."
Fonte: BBC Brasil
Gaspar
Moura dos Santos
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