terça-feira, 3 de novembro de 2020

O desejo por armas, o sentimento de impotência e o medo da castração: uma breve reflexão sobre uma temática atual.

 

Prezados, gostaria de apresentar uma breve reflexão sobre um tema atual que tem despertado uma calorosa discussão nas redes sociais: armar ou não a população. Atualmente é bem evidente que, diante uma criminalidade epidêmica, alguns clamem pelo direito de se armar, vendo nisto uma possibilidade de auto-defesa e de redução da violência.

No entanto, pelo que conheço, não existe evidência científica que mostre que armas reduzam a violência. Muito pelo contrário, entre os ditos países de primeiro mundo, há indicativos que aqueles nos quais as armas encontram-se banidas (Japão e Reino Unido) apresentem menor criminalidade do que aqueles permissivos (EUA) .



De fato, a melhor estratégia para redução da criminalidade é dar qualidade de vida à população. Diria que cobrar virtudes de uma população que não consegue viver de forma digna é algo até cruel….mas este não é o meu principal ponto aqui.

Partindo da premissa do esclarecimento desta questão, a pergunta que fica é: como explicar o desejo por armas por grande parte da população?

Antes de refletir sobre esta pergunta, convido vocês tentarem retomar os discursos dentre aqueles fervorosos defensores do armamento. Percebam que nas argumentações destes é muito fácil identificar o sentimento de *impotência* diante de uma possível ameaça, seja ela real ou não. Para mim, está aí a resposta.

A partir das obras de Freud, é possível inferir que este desejo por armas reflita alguns impulsos instintuais mais primitivos do ser humano, relacionados ao local para qual a libido, ou seja a energia sexual, é direcionada.

Tudo tem origem ainda na primeira infância, durante a fase de narcisismo infantil, quando os instintos de auto-sobrevivência são bem evidentes. Nesta época, as crianças têm na presença ou ausência do pênis um objeto de grande identificação. Daí, como parte de um processo de auto conhecimento, se desenvolve, naturalmente, um complexo de castração, em que afloram sentimentos de prazer, poder e medo. A medida que crescemos, nossa libido é direcionada a outros objetos, de forma que chegamos assim à vida adulta.

No entanto, este narcisismo infantil pode ainda persistir com maior ou menor expressão na vida psica adulta, assim como o próprio complexo de castração. Ou pode ser retomado a partir da transferência da libido para o próprio ideal de Eu.

Enfim, a resposta para mim é evidente!

O desejo por uma arma simboliza o poder que representa o próprio falo, ou a angústia da impotência que representa a falta dele.

Prezados, Freud explica!

Fonte: Ideias Imperfeitas