imagem GETTY IMAGES Nesta semana, as bolsas de valores se
comportaram como uma montanha-russa.
O senhor Mercado é um homem que
aposta nas Bolsas de Valores motivado por pânico, euforia ou apatia.
É um personagem
imaginário criado por Benjamin Graham em seu livro de 1949 O Investidor Inteligente que, numa interpretação
contemporânea, poderia ser descrito como um investidor bipolar, que muda
rapidamente do otimismo para o pessimismo.
Graham usa a metáfora para dizer que, no curto
prazo, os mercados de ações se comportam como o Sr. Mercado: eles reagem
loucamente a más e boas notícias, fazendo com que os mercados subam e desçam
como uma montanha-russa.
E é essa volatilidade que estamos vendo agora, com
a propagação rápida do coronavírus e a queda do preço do petróleo.
Na segunda-feira, seguindo tendência global de
queda, a Bolsa brasileira encerrou o pregão em baixa de 12%. Na terça, avançou
7% e recuperou parte da queda acentuada registrada no dia anterior.
Em meio a esse sobe e desce, muitas pessoas se
perguntam como as bolsas funcionam, por que elas desmoronam e se levantam
novamente, e qual o impacto na vida da população.
1. O que determina o
preço das ações
Um fator-chave na determinação do preço das ações é
a expectativa, ou seja, o que os investidores acreditam que poderá acontecer no
futuro com aquela determinada empresa, com o setor em que ela opera ou com a
economia de um país ou mesmo com a economia global.
"O valor das coisas é extremamente
subjetivo", disse Diego Mora, analista sênior da consultoria XTB.
Por exemplo, se você comprar um telefone celular
com preço de US$ 1 mil e sair da loja, já não poderá vendê-lo por mais de US$
700, ele explica.
imagem GETTY IMAGES A expectativa é um fator-chave na
determinação do preço das ações
No caso das bolsas de valores, inúmeras pessoas
avaliam quanto vale uma empresa e, portanto, opinam sobre o preço de suas
ações.
"No final, você chega a um tipo de consenso sobre
o valor de uma empresa, mas é um consenso que muda de segundo para
segundo", diz Mora.
2. O que você
realmente adquire quando compra uma ação?
Uma ação é uma participação em uma empresa que
abriu seu capital como uma forma de obter financiamento, geralmente quando ela
tem planos de expansão.
Quando você compra as ações de uma empresa, é
porque acredita que ela se sairá bem e que você receberá dividendos
(distribuição de lucros entre os acionistas) ou até que o preço da ação vai
subir e que você terá um lucro quando decidir vender.
O mistério está em quando comprar e quando vender.
E é aí que, além da análise técnica da saúde
financeira de uma empresa, o fator psicológico entra em jogo.
"As bolsas de valores são um reflexo
psicológico da sociedade" porque se movem em relação às expectativas das
pessoas, disse Borja Ribera, professora do mestrado em Bolsa de Valores e
Mercados Financeiros da EAE Business School, na Espanha.
Também é possível investir em índices de ações, que
são conjuntos de ações de diferentes empresas usadas como referência. Um índice
de ações tem um valor numérico, calculado de acordo com o preço de mercado de
cada uma das empresas que o compõem. Ele pode representar a evolução das ações
de um determinado país ou de um setor.
No Brasil, o Ibovespa é o principal indicador de
desempenho das ações negociadas na B3 (antiga BM&FBovespa) e reúne as
empresas mais importantes do mercado de capitais brasileiro. O índice, que é
resultado de uma carteira teórica de ativos, existe desde 1968 e é reavaliado a
cada quatro meses.
imagem GETTY IMAGES Uma ação é uma participação na
propriedade de uma empresa que abriu seu capital como uma forma de obter
financiamento, geralmente quando
ela tem planos de expansão.
Embora existam muitas bolsas de valores e índices
no mundo (como o Nikkei 225 - Bolsa de Tóquio, FTSE 100 - Londres, Eurostoxx 50
- Zona do Euro ou o Ibex 35 - Madri), o mercado mais emblemático é Wall Street,
em Nova York. Os principais índices são Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq, que
costumam ganhar as manchetes na imprensa.
Os especialistas geralmente recomendam que os
inexperientes que procuram o mercado de ações invistam em um índice antes de
concentrar seu dinheiro em uma única empresa, para reduzir o risco de perdas.
Os índices refletem o comportamento da cotação do
preço de um grupo de ações, diluindo o risco para o investidor.
3. Por que eles
desabam?
Se o comportamento do mercado de ações é um reflexo
psicológico da sociedade, como afirma Ribera, em uma situação de pânico ou
estresse financeiro "os interessados em comprar querem comprar a um preço
muito barato e aqueles que querem vender estão
dispostos a fazê-lo a qualquer preço".
imagem GETTY IMAGES O
surto de coronavírus tem gerado volatilidade nos mercados em todo o mundo
E, como o medo alimenta o medo, pode
ocorrer o colapso. Isso é explicado pela "psico-trading", ou
psicologia do investidor, que se dedicou a investigar esses comportamentos. Se
todo mundo quer vender porque teme que as ações continuem caindo, pode haver
poucos querendo comprar.
4. É
arriscado investir no mercado de ações?
No mundo dos investimentos, é
possível fazer uma distinção entre investidores mais cautelosos, como fundos de
pensão, e aqueles que buscam riscos.
Os mais conservadores tendem a se
refugiar em instrumentos que proporcionam retornos fixos de longo prazo (como
os títulos do tesouro dos EUA), porque são mais seguros.
Os investidores normalmente
diversificam seus recursos entre ativos financeiros de renda fixa (mais
seguros) e ativos de renda variável (mais arriscados), como ações.
"Existe uma relação inversa
entre risco e retorno", diz Ribera. "Quanto menor o risco que estou
disposto a correr, menor a lucratividade que posso ter."
imagem GETTY IMAGES Os
investidores normalmente diversificam seus recursos entre ativos financeiros de renda
fixa (mais seguros) e ativos de renda variável (mais arriscados).
Entre os diferentes perfis de investidores, há
também os chamados "especuladores", que buscam ganhar dinheiro em
pouco tempo.
Eles apostam nas chamadas "vendas a
descoberto", com o objetivo de ganhar dinheiro em minutos. Essa prática é
a venda de um ativo que o investidor ainda não possui, esperando que seu preço
caia, para então comprá-lo de volta e lucrar na transação com essa diferença.
Trata-se de uma aposta no cenário de que o mercado vai cair.
"Os especuladores se beneficiam com essas
quedas no mercado de ações", explica Mora."Quanto mais as ações caem,
mais dinheiro eles ganham. E os especuladores se aproveitam de qualquer
movimento, seja de alta ou de baixa".
Alguns os veem como o "vilão do filme",
motivados pela ganância, e outros os veem como os vencedores do jogo.
5. E
os algoritmos com isso?
No mercado de ações, não são só os humanos que
investem. Também existem robôs que compram e vendem ações usando algoritmos, em
um processo conhecido como "trading algorítmico".
Esses robôs se dedicam à especulação no mercado de
ações, seguindo a oferta e a demanda nas bolsas de valores. E eles fazem isso
em décimos de segundos.
imagem GETTY IMAGES Hoje há mais transações feitas por
robôs do que diretamente por humanos
Os investidores inserem os parâmetros para o robô
operar de acordo com certas circunstâncias.
"Posso dizer à máquina: quando isso acontece
no mercado, quero que você compre e quando aquilo acontece, quero que você
venda", diz Ribera.
O interessante é que atualmente existem mais
transações feitas por robôs do que diretamente por humanos. E os responsáveis por inserir os parâmetros
na máquina são
matemáticos e físicos
que se especializaram nessa área.
Fonte:
BBC Brasil