terça-feira, 18 de outubro de 2016

12 revelações embaraçosas sobre Hillary Clinton em e-mails vazados pelo Wikileaks



12 revelações embaraçosas sobre Hillary Clinton em e-mails vazados pelo Wikileaks

Image copyright Getty Images Image caption John Podesta a bordo do 'Hill Force One', o apelido do avião da campanha de Hillary
O site de vazamento de informações Wikileaks divulgou um novo lote de e-mails hackeados da conta de John Podesta, chefe de campanha da democrata Hillary Clinton.
As revelações não param de aparecer no site, que promete divulgar milhares de outros e-mails até o dia das eleições presidenciais, 8 de novembro.
Podesta, cuja conta foi hackeada, acusou o governo russo de estar por trás do vazamento e disse que a campanha de Trump já sabia a respeito.
Questionado sobre a veracidade dos e-mails, Podesta evitou uma resposta direta. Sugeriu apenas que alguns itens podem ter sido alterados, mas não classificou as correspondências como falsas.
O caso é diferente da outra controvérsia envolvendo e-mails de Hillary, quando foi descoberto que ela quebrou regras oficiais ao trabalhar com informações secretas usando um servidor privado em sua casa em Nova York quando ainda era secretária de Estado.
Então o que foi revelado desta vez pelo Wikileaks?

1) Tentativa de troca de favores
A campanha de Hillary tentou adiar as primárias de Illinois em um mês para reduzir a possibilidade de um republicano moderado ganhar notoriedade depois das primárias da Super Tuesday (Superterça, em inglês, dia em que a maioria dos Estados decidem o candidato de cada partido).
"Os Clinton não vão esquecer o que seus amigos fizeram por eles", escreveu Robby Mook, então futuro gerente de campanha de Clinton, em e-mail a Podesta em novembro de 2014.
No entanto, Mook disse que a votação seria difícil de remarcar porque os democratas de Illinois se sentiam "esquecidos e negligenciados" pelo presidente democrata Barack Obama. No fim das contas, a primária foi realizada na data prevista, 15 de março deste ano.

Image copyright Getty Images Image caption E-mails mostram que campanha de Hillary articulou para tentar adiar as primárias de Illinois em um mês

2) Defesa de ação secreta na Síria
De acordo com os últimos e-mails vazados, Hillary afirmou em uma palestra no banco de investimentos Goldman Sachs que gostaria de intervir secretamente na Síria.
"Na minha opinião você interfere da maneira mais secreta possível que os americanos podem interferir", disse ela em resposta a Lloyd Blankfein, chefe executivo do banco, em 2013, meses após deixar o cargo de secretária de Estado. O banco pagou US$ 225 mil pela palestra.
"Éramos melhores que isso antes, agora ninguém consegue se segurar, eles precisam ir e dizer aos seus amigos jornalistas ou qualquer outra pessoa 'olha o que eu estou fazendo, quero o mérito disso", disse Clinton, apelidada de "falcão" por críticos devido à forma como lida com guerras.

3) Críticas à China
Segundo os dados vazados, Hillary afirmou, na reunião no Goldman Sachs em 2013, que já havia avisado autoridades chinesas que iria "cercar" a China com antimísseis caso o país não conseguisse se impor perante as ameaças de ataques feitas pelo regime da Coreia do Norte.
"Então China, por favor: ou você os controla ou teremos de nos defender contra eles", teria dito ela em discurso, segundo os e-mails vazados de Podesta.
O discurso da atual candidata também incluía trecho que dizia que o Exército chinês era o "maior apoiador de uma Coreia do Norte provocadora".
Como secretária de Estado, HIllary visitou a China sete vezes e ajudou a estreitar as relações de Washington com a Ásia, algo que sempre foi visto com suspeita por Pequim.

4) Ironia de assessores contra católicos
Em outra troca de mensagens com potencial constrangedor, a hoje diretora de comunicação de Clinton, Jennifer Palmieri, e John Halpin, membro de centros de análise de política e opinião pública, fazem piada com uma notícia sobre a criação católica dos filhos do magnata das comunicações Rupert Murdoch, que declarou apoio na atual campanha ao republicano Donald Trump.
Halpin, que se diz católico, disse que muitos dos "mais poderosos membros do movimento conservador são católicos". "Devem se sentir atraídos ao raciocínio sistemático e às relações extremamente retrógradas de gênero", afirmou, acrescentando que a situação resultava de uma "enorme 'bastardização' da fé".
Palmieri responde dizendo que tais pessoas deveriam pensar que o catolicismo é a "religião politicamente conservadora mais aceitável socialmente".
Questionada sobre as mensagens, Palmieri disse não reconhecê-las e afirmou ser católica.

5) 'A política é como fazer salsicha'
"A política é como fazer salsicha. É desagradável e sempre foi assim, mas geralmente chegamos onde devemos chegar. Mas se todos estão assistindo a todas as conversas de bastidores e os acordos, aí as pessoas ficam um pouco nervosas, no mínimo. Portanto, você precisa de uma posição pública e outra privada", disse Hillary em discurso a banqueiros de Wall Street.
Ela falou isso ao comentar o filme Lincoln (2012), de Steven Spielberg, que mostra as negociações na época da Guerra Civil americana (1861-1865) para aprovar a Emenda 13 da Constituição dos Estados Unidos, que aboliu a escravidão.
Bernie Sanders, que disputou a indicação para a candidatura democrata com Hillary, pediu repetidamente durante as primárias que a rival divulgasse o teor de discursos pagos e privados feitos por ela a instituições financeiras. Hillary sempre se negou a fazê-lo.
A candidata teria recebido mais de US$ 26 milhões por discursos após deixar o Departamento de Estado.

Image copyright Getty Images Image caption A campanha de Hillary em Las Vegas; em palestra a banqueiros, candidata disse que 'política é como fazer salsicha'

6) CNN na berlinda
Donna Brazile, ex-comentarista da CNN, informou a campanha de Hillary com antecedência sobre uma pergunta que seria feita a ela em um evento organizado pelo canal de notícias em março, de acordo com os e-mails vazados pelo Wikileaks.
"De tempos em tempos eu consigo as perguntas com antecedência", disse Brazile, hoje chefe do comitê nacional do Partido Democrata, no assunto do e-mail enviado à equipe de Hillary em 12 de março.
Ela então copiou uma pergunta sobre pena de morte que seria feita a Hillary. A pergunta acabou sendo feita no evento.
Horas depois de o Wikileaks divulgar a colaboração, Brazile afirmou em depoimento que "nunca teve acesso a questões e jamais as compartilharia com candidatos mesmo se as tivesse".
O e-mail vazado também causou constrangimento à CNN, que costuma ser chamada de "Rede de Notícias Clinton" por Donald Trump.
Brazile foi empossada como chefe do comitê democrata quando sua antecessora Debbie Schultz deixou o posto após a divulgação de e-mails hackeados que revelavam inclinação do comitê por Hillary.
O principal órgão executivo do partido deveria ser neutro na competição entre Hillary e Bernie Sanders para a nomeação como candidato (a) democrata à Casa Branca.
Quando ainda era vice no comitê, em janeiro de 2016, Brazile, que é negra, encaminhou um e-mail à equipe de Hillary revelando o plano de Sanders para atrair eleitores negros.

7) Transparência no Departamento de Justiça
"O pessoal do Departamento de Justiça me disse que há uma audiência sobre esse caso hoje de manhã", disse o porta-voz de Hillary Brian Fallon em e-mail a Podesta em maio de 2015.
Era uma referência a um pedido oficial de informações feito por um jornalista que queria a revelação de e-mails de Hillary do período em que ela foi secretária de Estado de Obama (2009-2013).
Fallon, antigo porta-voz do Departamento de Justiça, estava retransmitindo informações que já eram públicas e circulavam na imprensa.
Mesmo assim, Donald Trump aproveitou a oportunidade para dizer que se trata de "conspiração e corrupção da mais alta ordem".
Image copyright Reuters Image caption Refugiados sírios no campo de Azraq, na Jordânia; Hillary sugeriu a banqueiros apoio a ação secreta dos EUA na Síria

8) Desconfiança com refugiados
Em discurso de 2013 ao Fundo de Judeus de Chicago, Hillary disse que Jordânia e Turquia "não conseguem investigar todos aqueles refugiados, então eles não sabem se jihadistas estão infiltrados com refugiados legítimos".
Os apoiadores de Trump usaram essa frase para criticar seu pedido para que os EUA aceitem 65 mil refugiados por ano, um aumento no plano inicial de Obama de permitir 10 mil por ano.
Muitos refugiados sírios passam por Jordânia, Turquia ou Líbano em sua jornada para o Ocidente.
Trump chegou a pedir a deportação de todos os imigrantes muçulmanos, mas depois disse que seus planos "mudaram para uma análise extensa daqueles originários de algumas regiões do mundo".

9) Discurso mutante
A recente oposição de Hillary a acordos comerciais contradiz o que ela disse em 2013 em uma palestra no banco brasileiro Itaú.
"Meu sonho é um mercado comum hemisférico, com comércio e fronteiras abertas, em algum momento no futuro quando tivermos acesso a energia sustentável, motor de crescimento e oportunidade para cada pessoa no hemisfério", disse na ocasião, segundo as mensagens divulgadas.
Para tentar atrair setores de classe média frustrados com o desempenho da economia sob Obama, Hillary passou na campanha a marcar posição contra alianças comerciais, como a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que reúne EUA, Japão e outros dez países.
A palestra no Itaú e a menção a "fronteiras abertas" e a um "mercado comum hemisférico" como "sonho" dela destoam dessa linha.
Opositores da democrata aproveitaram a oportunidade para criticá-la lembrando a famosa frase de Trump: "Sem uma fronteira não temos um país".

Image copyright Getty Images Image caption Manifestantes comemoram decisão de Obama de vetar o oleoduto de Keystone XL
10) Influência de assessores em tema ambiental
Os e-mails vazados mostram como assessores ajudaram a moldar a mudança de discurso de Hillary sobre um tema controverso, a construção do gasoduto Keystone XL.
Como secretária de Estado, Hillary disse em 2010 que a gestão Obama estava "inclinada" a aprovar a obra, mas como candidata ela evitou uma posição definitiva sobre o tema até uma decisão final de Obama.
Em uma mensagem de maio de 2015, o gerente de campanha da candidata, Robby Mook, fazia menção a uma notícia de que a Fundação Clinton havia recebido dinheiro de um dos apoiadores do projeto e afirma que "os ambientalistas podem criticar isso no futuro". "Já discutimos como ela falará sobre Keystone?", questiona.
Hillary anunciou sua objeção ao projeto somente em setembro de 2015 - dois meses depois, Obama vetou a construção do oleoduto.

11) Filha sob críticas
Doug Band, assessor pessoal de longa data de Bill Clinton, reclamou sobre intromissões de Chelsea Clinton, filha de Bill e Hillary, em trabalhos dele na Fundação Clinton.
Em um e-mail de 2011, ele disse que ela agia "como uma criança mimada que não tem mais nada para fazer do que criar problemas para justificar seu trabalho porque ela, como ela mesma disse, ainda não achou o seu caminho e não tem um foco na vida".
Chelsea Clinton, 36 anos, recentemente assumiu um cargo na Fundação Clinton e reclamou em e-mails que a consultoria de Band estava entrando em contato com membros do Parlamento britânico "em nome do (ex) presidente (Bill) Clinton".

Image copyright Getty Images Image caption Chelsea Clinton fala em um evento de campanha da mãe; filha foi alvo de críticas de assessor
12) Ofensa de assessor a aliado latino
"Latinos carentes e uma decisão fácil". Esse é o assunto de um e-mail enviado por Podesta a Hillary Clinton e um de seus mais próximos assessores, Huma Abedin, em agosto de 2015.
O e-mail de Podesta sugeria que Clinton contatasse o ex-governador do Estado do Novo México, Bill Richardson, e o ex-secretário de Energia Federico Pena para pedir apoio durante a campanha nas primárias.
Podesta também usa um termo ofensivo para se referir a Richardson, que dera a entender em e-mail anterior que só manifestaria apoio a Hillary após um telefonema pessoal.

Fonte: BBC Brasil