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revelações embaraçosas sobre Hillary Clinton em e-mails vazados pelo Wikileaks
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caption John Podesta a bordo do 'Hill Force One', o apelido do avião da
campanha de Hillary
O site de vazamento de informações Wikileaks
divulgou um novo lote de e-mails hackeados da conta de John Podesta, chefe de
campanha da democrata Hillary Clinton.
As revelações não param de aparecer no site, que
promete divulgar milhares de outros e-mails até o dia das eleições
presidenciais, 8 de novembro.
Podesta, cuja conta foi hackeada, acusou o governo
russo de estar por trás do vazamento e disse que a campanha de Trump já sabia a
respeito.
Questionado sobre a veracidade dos e-mails, Podesta
evitou uma resposta direta. Sugeriu apenas que alguns itens podem ter sido
alterados, mas não classificou as correspondências como falsas.
O caso é diferente da outra controvérsia envolvendo
e-mails de Hillary, quando foi descoberto que ela quebrou regras oficiais ao
trabalhar com informações secretas usando um servidor privado em sua casa em
Nova York quando ainda era secretária de Estado.
Então o que foi revelado desta vez pelo Wikileaks?
1) Tentativa de troca de favores
A campanha de Hillary tentou adiar as primárias de
Illinois em um mês para reduzir a possibilidade de um republicano moderado
ganhar notoriedade depois das primárias da Super Tuesday (Superterça, em
inglês, dia em que a maioria dos Estados decidem o candidato de cada partido).
"Os Clinton não vão esquecer o que seus amigos
fizeram por eles", escreveu Robby Mook, então futuro gerente de campanha
de Clinton, em e-mail a Podesta em novembro de 2014.
No entanto, Mook disse que a votação seria difícil
de remarcar porque os democratas de Illinois se sentiam "esquecidos e
negligenciados" pelo presidente democrata Barack Obama. No fim das contas,
a primária foi realizada na data prevista, 15 de março deste ano.
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caption E-mails mostram que campanha de Hillary articulou para tentar adiar as
primárias de Illinois em um mês
2) Defesa de ação secreta na Síria
De acordo com os últimos e-mails vazados, Hillary
afirmou em uma palestra no banco de investimentos Goldman Sachs que gostaria de
intervir secretamente na Síria.
"Na minha opinião você interfere da maneira
mais secreta possível que os americanos podem interferir", disse ela em
resposta a Lloyd Blankfein, chefe executivo do banco, em 2013, meses após
deixar o cargo de secretária de Estado. O banco pagou US$ 225 mil pela
palestra.
"Éramos melhores que isso antes, agora ninguém
consegue se segurar, eles precisam ir e dizer aos seus amigos jornalistas ou
qualquer outra pessoa 'olha o que eu estou fazendo, quero o mérito disso",
disse Clinton, apelidada de "falcão" por críticos devido à forma como
lida com guerras.
3) Críticas à China
Segundo os dados vazados, Hillary afirmou, na
reunião no Goldman Sachs em 2013, que já havia avisado autoridades chinesas que
iria "cercar" a China com antimísseis caso o país não conseguisse se
impor perante as ameaças de ataques feitas pelo regime da Coreia do Norte.
"Então China, por favor: ou você os controla
ou teremos de nos defender contra eles", teria dito ela em discurso,
segundo os e-mails vazados de Podesta.
O discurso da atual candidata também incluía trecho
que dizia que o Exército chinês era o "maior apoiador de uma Coreia do
Norte provocadora".
Como secretária de Estado, HIllary visitou a China
sete vezes e ajudou a estreitar as relações de Washington com a Ásia, algo que
sempre foi visto com suspeita por Pequim.
4) Ironia de assessores contra católicos
Em outra troca de mensagens com potencial
constrangedor, a hoje diretora de comunicação de Clinton, Jennifer Palmieri, e
John Halpin, membro de centros de análise de política e opinião pública, fazem
piada com uma notícia sobre a criação católica dos filhos do magnata das
comunicações Rupert Murdoch, que declarou apoio na atual campanha ao
republicano Donald Trump.
Halpin, que se diz católico, disse que muitos dos
"mais poderosos membros do movimento conservador são católicos".
"Devem se sentir atraídos ao raciocínio sistemático e às relações
extremamente retrógradas de gênero", afirmou, acrescentando que a situação
resultava de uma "enorme 'bastardização' da fé".
Palmieri responde dizendo que tais pessoas deveriam
pensar que o catolicismo é a "religião politicamente conservadora mais
aceitável socialmente".
Questionada sobre as mensagens, Palmieri disse não
reconhecê-las e afirmou ser católica.
5) 'A política é como fazer salsicha'
"A política é como fazer salsicha. É desagradável
e sempre foi assim, mas geralmente chegamos onde devemos chegar. Mas se todos
estão assistindo a todas as conversas de bastidores e os acordos, aí as pessoas
ficam um pouco nervosas, no mínimo. Portanto, você precisa de uma posição
pública e outra privada", disse Hillary em discurso a banqueiros de Wall
Street.
Ela falou isso ao comentar o filme Lincoln
(2012), de Steven Spielberg, que mostra as negociações na época da Guerra Civil
americana (1861-1865) para aprovar a Emenda 13 da Constituição dos Estados
Unidos, que aboliu a escravidão.
Bernie Sanders, que disputou a indicação para a
candidatura democrata com Hillary, pediu repetidamente durante as primárias que
a rival divulgasse o teor de discursos pagos e privados feitos por ela a
instituições financeiras. Hillary sempre se negou a fazê-lo.
A candidata teria recebido mais de US$ 26 milhões
por discursos após deixar o Departamento de Estado.
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caption A campanha de Hillary em Las Vegas; em palestra a banqueiros, candidata
disse que 'política é como fazer salsicha'
6) CNN na berlinda
Donna Brazile, ex-comentarista da CNN, informou a
campanha de Hillary com antecedência sobre uma pergunta que seria feita a ela
em um evento organizado pelo canal de notícias em março, de acordo com os
e-mails vazados pelo Wikileaks.
"De tempos em tempos eu consigo as perguntas
com antecedência", disse Brazile, hoje chefe do comitê nacional do Partido
Democrata, no assunto do e-mail enviado à equipe de Hillary em 12 de março.
Ela então copiou uma pergunta sobre pena de morte
que seria feita a Hillary. A pergunta acabou sendo feita no evento.
Horas depois de o Wikileaks divulgar a colaboração,
Brazile afirmou em depoimento que "nunca teve acesso a questões e jamais
as compartilharia com candidatos mesmo se as tivesse".
O e-mail vazado também causou constrangimento à
CNN, que costuma ser chamada de "Rede de Notícias Clinton" por Donald
Trump.
Brazile foi empossada como chefe do comitê
democrata quando sua antecessora Debbie Schultz deixou o posto após a
divulgação de e-mails hackeados que revelavam inclinação do comitê por Hillary.
O principal órgão executivo do partido deveria ser
neutro na competição entre Hillary e Bernie Sanders para a nomeação como
candidato (a) democrata à Casa Branca.
Quando ainda era vice no comitê, em janeiro de
2016, Brazile, que é negra, encaminhou um e-mail à equipe de Hillary revelando
o plano de Sanders para atrair eleitores negros.
7) Transparência no Departamento de Justiça
"O pessoal do Departamento de Justiça me disse
que há uma audiência sobre esse caso hoje de manhã", disse o porta-voz de
Hillary Brian Fallon em e-mail a Podesta em maio de 2015.
Era uma referência a um pedido oficial de
informações feito por um jornalista que queria a revelação de e-mails de
Hillary do período em que ela foi secretária de Estado de Obama (2009-2013).
Fallon, antigo porta-voz do Departamento de
Justiça, estava retransmitindo informações que já eram públicas e circulavam na
imprensa.
Mesmo assim, Donald Trump aproveitou a oportunidade
para dizer que se trata de "conspiração e corrupção da mais alta
ordem".
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caption Refugiados sírios no campo de Azraq, na Jordânia; Hillary sugeriu a
banqueiros apoio a ação secreta dos EUA na Síria
8) Desconfiança com refugiados
Em discurso de 2013 ao Fundo de Judeus de Chicago,
Hillary disse que Jordânia e Turquia "não conseguem investigar todos
aqueles refugiados, então eles não sabem se jihadistas estão infiltrados com
refugiados legítimos".
Os apoiadores de Trump usaram essa frase para
criticar seu pedido para que os EUA aceitem 65 mil refugiados por ano, um
aumento no plano inicial de Obama de permitir 10 mil por ano.
Muitos refugiados sírios passam por Jordânia,
Turquia ou Líbano em sua jornada para o Ocidente.
Trump chegou a pedir a deportação de todos os
imigrantes muçulmanos, mas depois disse que seus planos "mudaram para uma
análise extensa daqueles originários de algumas regiões do mundo".
9) Discurso mutante
A recente oposição de Hillary a acordos comerciais
contradiz o que ela disse em 2013 em uma palestra no banco brasileiro Itaú.
"Meu sonho é um mercado comum hemisférico, com
comércio e fronteiras abertas, em algum momento no futuro quando tivermos
acesso a energia sustentável, motor de crescimento e oportunidade para cada
pessoa no hemisfério", disse na ocasião, segundo as mensagens divulgadas.
Para tentar atrair setores de classe média
frustrados com o desempenho da economia sob Obama, Hillary passou na campanha a
marcar posição contra alianças comerciais, como a Parceria Transpacífico (TPP,
na sigla em inglês), que reúne EUA, Japão e outros dez países.
A palestra no Itaú e a menção a "fronteiras
abertas" e a um "mercado comum hemisférico" como
"sonho" dela destoam dessa linha.
Opositores da democrata aproveitaram a oportunidade
para criticá-la lembrando a famosa frase de Trump: "Sem uma fronteira não
temos um país".
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caption Manifestantes comemoram decisão de Obama de vetar o oleoduto de
Keystone XL
10) Influência de assessores em tema ambiental
Os e-mails vazados mostram como assessores ajudaram
a moldar a mudança de discurso de Hillary sobre um tema controverso, a
construção do gasoduto Keystone XL.
Como secretária de Estado, Hillary disse em 2010
que a gestão Obama estava "inclinada" a aprovar a obra, mas como
candidata ela evitou uma posição definitiva sobre o tema até uma decisão final
de Obama.
Em uma mensagem de maio de 2015, o gerente de
campanha da candidata, Robby Mook, fazia menção a uma notícia de que a Fundação
Clinton havia recebido dinheiro de um dos apoiadores do projeto e afirma que "os
ambientalistas podem criticar isso no futuro". "Já discutimos como
ela falará sobre Keystone?", questiona.
Hillary anunciou sua objeção ao projeto somente em
setembro de 2015 - dois meses depois, Obama vetou a construção do oleoduto.
11) Filha sob críticas
Doug Band, assessor pessoal de longa data de Bill
Clinton, reclamou sobre intromissões de Chelsea Clinton, filha de Bill e
Hillary, em trabalhos dele na Fundação Clinton.
Em um e-mail de 2011, ele disse que ela agia
"como uma criança mimada que não tem mais nada para fazer do que criar
problemas para justificar seu trabalho porque ela, como ela mesma disse, ainda
não achou o seu caminho e não tem um foco na vida".
Chelsea Clinton, 36 anos, recentemente assumiu um
cargo na Fundação Clinton e reclamou em e-mails que a consultoria de Band
estava entrando em contato com membros do Parlamento britânico "em nome do
(ex) presidente (Bill) Clinton".
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caption Chelsea Clinton fala em um evento de campanha da mãe; filha foi alvo de
críticas de assessor
12) Ofensa
de assessor a aliado latino
"Latinos carentes e uma decisão fácil".
Esse é o assunto de um e-mail enviado por Podesta a Hillary Clinton e um de seus
mais próximos assessores, Huma Abedin, em agosto de 2015.
O e-mail de Podesta sugeria que Clinton contatasse
o ex-governador do Estado do Novo México, Bill Richardson, e o ex-secretário de
Energia Federico Pena para pedir apoio durante a campanha nas primárias.
Podesta também usa um termo ofensivo para se
referir a Richardson, que dera a entender em e-mail anterior que só
manifestaria apoio a Hillary após um telefonema pessoal.
Fonte:
BBC Brasil